Em Salvador, capital da Bahia, se concentra um contraste de costumes, arquitetura, folclore, enfim, vivências e convivências. A primeira Capital do Brasil arrebanha costumes e tradições trazidas tanto da Península Ibérica quanto da África.
Quando lá estivemos, constatamos, eu e Emília, minha esposa, que a miscigenação cultural é viva, faiscante e fascinante. Convivem pais e mães de santos e seguidores de outras manifestações religiosas, a negritude assumida e preponderante faz o diferencial de outras capitais brasileiras, quer em número, quer em fidelidade às tradições.
As baianas espalhadas pelo Pelourinho, seus turbantes, saias rendadas, preparo de acarajés, vatapás, carurus e outros quitutes da culinária afra. As pedras irregulares do calçamento na chamada Cidade Histórica, os prédios antiquíssimos, sobrados, casarões, edifícios erguidos desde a colonização, o Palácio do Primeiro Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza, o Museu da Misericórdia, enfim toda uma coleção de moradias que embelezam aquela área da capital baiana. Tudo muito conservado e visitado por turistas admirados com a História conservada em monumentos e construções.
Vista de Salvador / Pelourinho / Museu da Misericórdia
Leandro Neumann Ciuffo / @bahia.ba.gov.br
No terreiro de Jesus (nome dado pelos jesuítas a um espaço largo em frente à Igreja Catedral) grupo de capoeira se exibindo. A denominação é estranha, mas nada tem a relacionar-se com o candomblé africano. Ainda a “Fundação Casa de Jorge Amado”, a ladeira pela qual, por ocasião das filmagens de “Dona Flor e seus dois maridos”, o saudoso ator José Wilker desceu completamente despido. O pequeno sobrado, onde o cantor Michel Jackson dançou axé juntamente com os baianos. Becos ladeados por lojas exibindo sortimento vasto de artigos artesanais da cultura local. Muita gente em trânsito.
Leandro Neumann Ciuffo / @bahia.ba.gov.br
Desde a Igreja do Senhor do Bomfim, no alto, cercada de fitinhas rogativas amarradas por devotos na grade circundante até o final de nosso tour, fomos assediados por vendedores. Assédio contumaz, quase que nos forçando a adquirir o produto oferecido. Baianas para posarem em fotos, pais de santo vestidos a caráter a darem os chamados “passes” e outros a oferecer patuás protetores.
Farol da Barra / Emília e José Leite Guerra / Igreja de S. Francisco
Eduardo de São Paulo / Acervo do autor / Gustavo Boulhosa
Não se deve ir a Salvador sem visitar o belíssimo templo de São Francisco. Oitocentos quilos de ouro trabalhado por artesãos de cor negra em ornamentos de altares, púlpitos, paredes, teto: um céu aberto na terra. Inesquecível, embora contraditório, eis que a espiritualidade de Francisco se inspira na pobreza evangélica: o poverello como ele é chamado. Um encanto para os olhos. Os ricaços da época, século XVI, contribuíam com a construção e pagavam uma exorbitância para terem seus túmulos cavados próximos ao altar-mor. Veem-se muitas lajes recobrindo os restos mortais ali sepultados já sem identificações apagadas pelo tempo.
Eduardo de São Paulo / Acervo do autor / Gustavo Boulhosa
Nosso passeio terminou após descermos pelo elevador Lacerda e fazermos uma visita ao Mercado Modelo. A linda Baía de Todos os Santos, as belas paisagens, edificações diversificadas, cenários em contraponto, faróis, o famoso Farol da Barra, cintilações de mercerizada vida em raças, cores e costumes. Axé, Amém.