Pelas bandas de cá do mundo, o Nordeste é diferente. O céu de junho traz notícias específicas e especiais. Ele desenha em nuvens de comida de milho, se enfeita de bandeirolas e até tem uma playlist ao ritmo de forró pé-de-serra, xote, baião. E traz chuva mais forte, faz cair suave e deliciosamente os marcadores dos termômetros.
O céu de junho é recheado de reminiscências. Tem gosto da primeira infância, da adolescência, da juventude de sempre. Engraçado, mas até possui cheiro de terra, fragrância de mato molhado, de dias nublados. Porém, também são feitos de azul, ainda mais límpido, bem celestial para celebrar a tríade dos santos juninos: Antônio, João e Pedro.
Sim, o céu de junho tem sabor próprio. É assinado por outono/inverno, desfile de nova estação com jeito de múltiplas paragens. A natureza parece pedir ainda mais passagem. Verde úmido da madrugada é mais forte, a grama desfruta de trégua nos banhos quentes dos raios do Sol que queimam e lhe dão outra aparência, do marrom queimado de outras poéticas. É despejado de verde em multitons.
Céu junino pode até parecer meio tristinho com despejo de águas. Interpretação enganosa, pois chuva é festança celestial, alegrias e comemorações por santos famosos. É festa no céu, é festança na terra. Junho em céu e o momento de celebrar as origens, a fartura, os esforços, as trajetórias, as vidas e as saudades.
É junho e o céu ganha luzes. De fogos silenciosos, apenas com o barulho das batidas dos corações, dos estampidos de beijos, da explosão de olhares. E flashs em azuis, amarelos, verdes, vermelhos, laranjas de fantasias. Da fogueirinha que queima no terreiro e produz imagens e mensagens. Brilhos de olhos da criança encantada a correr e do idoso encantador na calçada de casa.
Desfere junho uma tela de céu que se renova. Do azul, pincela ao alvorecer e ao fim do dia rápidas rajadas alaranjadas até a transformação do azul negro noturno. Com as nuvens, compõem balés na formação de novas chuvas que se anunciam antes de se precipitarem para beijar todas as coisas físicas e subjetivas que encontram na terra.
Desmancha-se o céu para surgir em uma nova camada. Branco, azul, cinza, negro, infinito teto do mundo. Por vezes, em junho, o céu desce e se conecta com a terra. Vira cortina molhada, para brotar, em seguida, uma nova ramagem de azul. Um céu em junho está aberto para receber enfeites. À chuva, ao Sol, à Lua e ao voo de cada fantasia formada por arraiais da nação nordestina. Bandeirolas, argolas, pau-de-sebo e tantas brincadeiras criam um céu no chão. Junino mês de fantasias especiais para o ser nordestino. Celeste reencontro de dias em cores.