"O homem é um animal político.”
“A economia é o que sobra quando acaba a Política.”
“Gosto de Platão, mas gosto mais ainda da verdade.”
Essas são frases famosíssimas do homem que foi preceptor de Alexandre, o Grande, durante três anos. Embora Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.), tal como seu mestre Platão, tenha vivido há cerca de dois mil e quinhentos anos, suas ideias permanecem vivas até os dias atuais, constituindo parte fundamental da cultura ocidental.
Fundou sua própria escola em Atenas, o Liceu. Por ensinar caminhando, seu método de ensino ficou conhecido como peripatético. Influenciou quase todos os campos de conhecimento que estudou (lógica, física, história natural, psicologia, política, ética, metafísica, artes).
Foi o primeiro a dividir e subdividir áreas de investigação. Também foi o primeiro a tentar fazer uma classificação do conhecimento. Realizou inclusive estudos nas áreas de biologia (influenciou por demais a biologia moderna). O Historicismo e o Evolucionismo do século XIX também beberam em sua fonte.
Contestou a filosofia idealista de Platão, adotando uma abordagem empírica no estudo da natureza (a partir da existência do ser, devemos atingir a sua essência, partindo do individual e específico para o universal e genérico – método indutivo). Nos seus estudos de lógica, sistematizou o silogismo, bloco de construção básico de qualquer argumento, sendo considerado o criador da lógica dedutiva clássica.
Retomando a questão do ser (a clássica polêmica entre Heráclito e Parmênides), propôs uma nova interpretação ontológica (em todo ser devemos distinguir o ato e a potência).
Em sua obra “Poética”, desenvolve a teoria do objetivo da tragédia – usar a piedade e o medo para chegar a uma purificação ou catarse, que vigora até hoje. Nas Letras, o Classicismo inspira-se em sua “Poética”.
Revolucionou todos os campos de conhecimento que tocou (com exceção da matemática, em que Platão e seus seguidores permanecem absolutos). Demorou-se mais de vinte séculos para se descobrirem limitações em seu pensamento, o que atesta, de forma definitiva, o seu gênio sem paralelo.
Desde que os árabes aprenderam filosofia grega com os sírios, que idolatravam Aristóteles e não Platão, o estagirita tornou-se o principal pensador grego para o mundo muçulmano. Dessarte, influenciou sobremaneira os principais pensadores árabes, tais como Avicena (com volumosa obra sobre Medicina) e Averróis, os quais tentaram sistematizar o conhecimento aristotélico. Judeu espanhol que escreveu em árabe, Maimônides também ajudou a propagar o pensamento aristotélico para o ocidente, procurando conciliá-lo com o judaísmo.
Aristóteles influenciou, de igual forma, São Tomás de Aquino, que harmonizou a filosofia aristotélica com a teologia cristã, o que fez com que surgissem “verdades absolutas” que sobrevivem até hoje no seio da Igreja e que representaram, de certa forma, a ruína do pensamento aristotélico, por um lado, e a base da educação cristã ocidental, por outro.
Influenciou, modernamente, o filósofo da ciência Thomas Kuhn, o qual também o criticou veementemente: a visão de que a Terra era o centro do universo atrasou a ciência e, principalmente, a astronomia por mais de um milênio e meio. De outra banda, sua visão de que o mundo era constituído pelos quatros elementos básicos também muito contribuiu para o retardamento do conhecimento científico.
Na verdade, Aristóteles era tão genial e seu pensamento tão vasto que ele criava muitos paradigmas e conceitos que eram geralmente aceitos e tidos como verdades absolutas. Por muito tempo, pouco se questionou o que ele lançou no terreno do conhecimento.
Propôs três tipos de Estado, com suas respectivas deformações: Monarquia (Tirania); Aristocracia (Oligarquia); Democracia (Anarquia). Não questionou a escravidão e achava as mulheres despreparadas para a liberdade e para os direitos políticos (nem ele era perfeito!).
Após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam grande intensidade em Atenas, passando Aristóteles a ser perseguido, razão pela qual decidiu abandonar a cidade-estado, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia”.
Ele, ao lado de Platão, organizou e sistematizou a maioria dos problemas que viriam a ser conhecidos como filosofia. Enquanto a abordagem de Platão era mais subjetiva e idealista, focalizando o universo sob um ponto de vista essencialmente “religioso”, Aristóteles assumiu uma postura mais “realista”, abordando em seu campo de estudo, de forma prática e científica, a totalidade do conhecimento objetivo, sistematizando o conhecimento humano em várias áreas. Há muito me pergunto se ele foi um homem somente ou vários.