O assunto dos últimos dias nas redes sociais, e mesmo fora delas, tem sido a implosão do Titan. A simulação do que teria ocorrido com o submersível bateu recordes de acessos na internet. O mundo, com essa mórbida curiosidade que tem pelas tragédias, perguntava-se como haviam morrido os cinco ocupantes.
Houve quem se decepcionasse ao saber que eles morreram “sem sentir nada”. Mas como, se eram bilionários que por espírito de aventura, ou mesmo para se distrair, resolveram mergulhar para ver os restos do Titanic? Como terem placidamente sucumbido quando milhares de imigrantes vêm perdendo a vida em naufrágios de precárias embarcações? Não era justo!
Essa é uma ponderação pouco sensata, pois morte é sempre morte. O fato de os cinco serem endinheirados não deve diminuir o pesar por uma tragédia que também representou frustração quanto aos planos, por exemplo, de aperfeiçoar a engenharia náutica. Se não fossem os aventureiros que com ousadia exploram a Natureza e ampliam o conhecimento humano, ainda morreríamos de doenças hoje erradicadas ou de muitos eventos naturais.
Antigamente, em face de uma tempestade, o indivíduo se punha a rezar e procurava abrigo embaixo de uma árvore – um dos lugares mais perigosos, como se sabe, para se proteger numa circunstância como essa. Hoje ele sobrevive se ficar por perto de um para-raios. E só morre fulminado por descarga elétrica quem ignora essa recomendação.
Lamentar a morte dos milionários não significa ser insensível aos que perecem tentando atravessar oceanos em busca de uma vida melhor. O que acontece aos imigrantes é triste, injusto, e deve nos mobilizar. Deve nos motivar a exigir dos governos políticas que promovam a igualdade e a ascensão dos excluídos nesse imperfeito capitalismo.
No caso de Stockton Rush e seu grupo o que se lamenta é o colapso de um sonho, combustível de que o nosso espírito precisa para prosseguir com a sua aventura na Terra ou mesmo fora dela. O ideal era que quem tivesse interesse e dispusesse da fabulosa quantia que lhe permitisse observar os escombros do Titanic pudesse fazer isso. É uma possibilidade que se oferece a muito poucos – mas quem se aventurasse, que o fizesse sem necessariamente vir a perder a vida.
A curiosidade pela implosão decorreu em parte de que estamos pouco acostumados com essa destruição “de fora para dentro”. Vemos atualmente muitas... explosões, como as que os russos vêm provocando na Ucrânia; elas destroem cidades, esfacelam corpos e queimam vegetações, conforme a TV tem mostrado. Mas o que haveria de diferente numa implosão?
Não houve tempo para dor nem outro tipo de desconforto. Como disse um especialista ao jornal britânico DailyMail, "teria sido tão de repente, que eles nem saberiam que havia um problema ou o que aconteceu com eles. É como estar aqui um minuto, e então o interruptor é desligado. Você está vivo em um milissegundo e no próximo milissegundo você está morto".
Os ocupantes do Titan não sofreram, é verdade, mas isso não torna o destino que tiveram menos triste nem “injusto”. Se uma lição deve-se tirar do episódio, é que a curiosidade e o desejo de inovação não podem levar ao desprezo por regras fundamentais de segurança. Fazer da aventura um jogo, como parecia ser o caso de Rush, é ignorar o que nela pode haver de risco. Por vezes fatal.