É assim que se diz quando o mar não está para peixe e é hora de irmos batendo nossa rica plumagem. São instantes quando sentimos que a situação não está fácil e vamos perdendo a paciência para certas coisas. Tenho aventado a possibilidade de tornar-me um ermitão, um anacoreta, um monge, qualquer coisa assim, deixar o cabelo crescer, não fazer mais a barba, usar trajes de linho cru, desses bem baratinhos, calçar alpercatas e ir morar numa dessas brenhas de mundo, onde não chegue sinal de TV e nem de internet., nem gente inconveniente para me perturbar.
Sinto que estou fora de contexto. O mundo onde nasci, cresci, adotei. cultivei conceitos e princípios não parece mais aquele que eu julgava ser meu. Sou uma carta fora do baralho e sinto que não vou me adaptar.
Mas, por quê? É o que irão perguntar esses meus leitores e leitoras, criaturas que ainda me dão sentido à vida e é exatamente por isso que estou aqui, para falar com vocês. Um desabafo, entendam assim.
A burrice impermeável, indestrutível é dura de suportar e é o que não falta hoje em dia. Querem um só exemplo? Em primeiro lugar sou um terra-redondista. Finco pé na ciência, nas navegações marítima, aéreas e até na mais simples observação ali na Ponta do Cabo Branco para saber que a Terra é redonda. Aliás, redondíssima. E não tem gente que acha que ela é plana? São defensores aguerridos dessa idiotice. Lá nos meus verdes anos, ainda frequentando a segunda série do curso primário, Dona Júlia, minha professora, levou um globo pequenino para sala de aula, alguém segurou uma laranja acima da cabeça com os braços esticados e Dona Júlia foi percorrendo voltas em torno dessa auxiliar, dando a noção de que a trajetória era elíptica (ela não mencionou esses nome) e que a distância em que a Terra ficava em relação ao Sol é o que determinava a mágica mudança das estações. Bem mais adiante é que fui entender o que eram os solstícios e os equinócios. Mas pequenino sabia porque havia inverno e verão.
Quando vejo um marmanjo terra-planista começo a desconfiar que plano, deve ser o cérebro dessa criatura. Difícil é acreditar como estes, na maioria, têm diplomas universitários.
Uma outra coisa que está difícil de defender é minha opção sexual. Estou hoje naquela minoria dos chamados héteros. E não sou um heterozinho meia boca. Sou um hétero juramentado e sacramentado. Mas, não sou machista. Aliás, aprendi a não ter esse e nem outros preconceitos, de raça, de posição social, opção sexual, de gênero e outros, se outros houver. Sou um defensor intransigente das liberdades individuais.
Certa vez lendo uma entrevista do genial Nei Matogrossso, concordei plenamente quando ele afirmou que na natureza distinguimos dois sexos: o homem e a mulher e o que a pessoa faz em relação a sua vida sexual não é da conta de ninguém. O mundo assim seria melhor, sem preconceitos mas também sem tentar impor comportamentos. Não seria mais fácil?
Também me incomoda uma censura camuflada, rasteira e perniciosa impedindo o cidadão de emitir sua opinião. Aí, nesse particular, sou partidário de Voltaire: “Não concordo com nenhuma palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las”
Já notaram que o que mais vemos hoje nesse contexto polarizado são os defensores da democracia? Mas, não se atreva a discordar que ele virá com chinelos e sapatos para cima de você. Ou seja, defenderá até a morte uma opinião, desde que esta seja igual a dele. E não é isso que vemos por aí?
Em resumo está difícil viver aqui e suportar essas três coisas que exemplifiquei de forma muito simplista e rudimentar uma vez que não me faltariam exemplos: a burrice, a intolerância e a patrulha ideológica.
Assim, o melhor a fazer é morar numa loca isolada desse mundão ao lado da mulher querida (espero que ela tope a parada), contemplar o amanhecer e o os fins de tarde nesse mágico percurso da Terra em torno do Sol e dizer aos passarinhos tudo o que penso ou sinto, sem medo de fazer inimigos, sem medo de censura.