Eu o vi abrir com “My Way” — em fabuloso solo de seu trombone – a tarde que nos concedeu, a nós poucos, happy few, band of brother...

Radegundis

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Eu o vi abrir com “My Way” — em fabuloso solo de seu trombone – a tarde que nos concedeu, a nós poucos, happy few, band of brothers, às 17 horas daquela quinta—feira, no segundo piso da extremamente silenciosa biblioteca da UFPb, para o primeiro encontro mensal com celebridades paraibanas que eu retratara para a série Pense Grande, capas do caderno FIM DE SEMANA do jornal O Norte, de janeiro de 2000 a julho de 2001.

Era uma autobiografia que nos apresentava de cara, nos sons dourados de seu instrumento, contando como tivera uma vida plena, como viajara por todas as estradas e – mais, muito mais que isso: como fizera tudo do seu jeito.




And more,
much more than this,
I did it my way



Alguns anos depois, o Eli-Eri Moura, comovido, iria me encomendar o texto de um Réquiem pra Radegundis , e criei toda uma situação para a obra, certo de contar com o sistema de animação como cenário — Theater Set Projections — , produzido pela Brazil Agency:N/A. Molho , empresa de Marcelo Garcia – filho de Ana Lúcia Altino, organizadora do festival Virtuosi, do Recife, onde o Cristo do Juízo Final de Miguelângelo regeria a orquestra composta dos anjos com trombetas da pintura e dos músicos no palco, tendo como solista Radegundis. Mas nada disso acabou acontecendo.
Ficaram-me na memória, as imensas gargalhadas e a enorme vitalidade do cabra de Itaporanga que se tornara mestre de trombone pela The Julliard School de Nova Iorque, 1987, doutor em trombone pela The Catholic University of America, de Washington D.C., 1991.

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Radegundis Feitosa @Grácio Zaqueu


I did it my way;



— Sim, batalhando muito! — Radegundis nos contara, na Biblioteca da UFPB.

Fizera sua trilha inicial em Itaporanga, a partir da Filarmônica Cônego Manoel Firmino do Colégio Diocesano D. João da Mata, sob a direção de Severino Ferreira, depois viera estabelecer sua base aqui em João Pessoa, passando a ser solista, camerista e instrumentista de orquestras na Paraíba, no Sul do país, nos Estados Unidos e na Europa. Com entusiasmo e desenvoltura, em cima do tema “Pense Grande”, falou e falou, tocou e tocou, gargalhou, diante dos setenta originais em acrílica sobre tela que eu fizera e estavam lá, na parede da Biblioteca, em exposição permanente, ele no meio.

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Beth Macdonald
O instrumento de Radegundis não me era estranho. Havia um em minha casa, na infância, e havia um quepe com uma lira, e havia uma foto de meu pai muito jovem com seus colegas da banda Carlos Gomes, de Campinas, interior de São Paulo, e havia meu assombro ao vê-lo solfejar La Habanera da “Carmen”, de Bizet, mas nunca o vi tocando – “não tenho, mais, embocadura”.

— Duas coisas importantes que aprendi na vida – proclamou Radegundis. – Não podemos perder as oportunidades que nos aparecem e... temos de fazer tudo para que elas apareçam!...

Falou-nos sobre o grande lance que fora o fato de ter conseguido o patrocínio da Weril — uma das cinco maiores fábricas de instrumentos de sopro do mundo, cem por cento brasileira, presente em mais de quarenta países — o que possibilitara a existência do Brazilian Trombone Ensemble e de suas gravações e fabulosas viagens internacionais a partir daqui de João Pessoa.

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Acervo de família/@discogs
— “Devido à repercussão do nosso trabalho, a maior exportação de instrumentos musicais brasileiros, que era a de teclados, passou a ser a de instrumentos de sopro, especialmente – exibiu o seu – o trombone”. O que se depreende daí? Que a música acaba gerando renda, gerando empregos significativos... sem que precisemos abandonar nossa Paraíba!

Grande Radegundis. Viajava pra Itaporanga, num Citroën C 4 Pallas, quando nos abandonou. Mas naquela tarde fizera questão de dizer que não era uma exceção e que se orgulhava de já ter formado vários outros músicos notáveis, como professor do Departamento de Música da UFPb. Nada mal seria vê-lo tocar com os anjos.


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