Recentemente, concluí a leitura da obra "30 Anos de Paraíba" escrita pelo engenheiro, etnólogo e arqueólogo francês Leon Clerot, que, desde os anos 1930, prestou inúmeros trabalhos e pesquisas importantes na área de geologia, mineralogia, paleontologia e etnologia em terras paraibanas.
Suas atividades resultaram na referida obra, escrita em fins da década de 1960, e também na denúncia do descaso das autoridades governamentais com a riqueza pré-histórica paraibana, como fósseis de diferentes espécies de dinossauros descobertas em zonas fisiográficas diversas do estado. Há, também, relatos da passagem humana pré-histórica e pré-cabralina dos Cariris, descobertas em propriedades privadas a partir da área de caatinga litorânea, com perdas irreparáveis.
Os Cariris, segundo as pesquisas arqueológicas, tinham costumes semelhantes aos povos originários amazônidas, como a cerâmica em mesmo estilo, produção de muiraquitã, o modo de enterrar suas múmias em urnas (tudo destruído por proprietários rurais) e a forma de emparedamento dos seus mortos. Há uma comparação por meio de fotos dos instrumentos de pedra utilizados por Potiguaras e Cariris, além de outras informações relevantes.
O autor dedica parte da obra aos litógrafos, como a Itacoatiara do Ingá, e explica geologicamente as cavernas de sílex que deram origem ao nomes dos municípios de Pedras de Fogo e Itambé, de onde Potiguaras e Cariris extraiam material para fabricação de instrumentos e armas.
Ao fim da obra, Clerot nos traz um glossário com palavras Tupi e outro com palavras Cariri. Os Cariris são do tronco linguístico Macro-Jê. O autor faz uma análise importante sobre o que hoje se denomina epistemicídio. No caso, os Cariris sofreram apagamento de seu idioma com a introdução do Tupi por portugueses e brasileiros não-indígenas e outros que entraram por território paraibano, conforme é destacado em sua obra.
A luta entre Cariris e não-indígenas pela posse do território deu origem ao que ficou conhecido como a Confederação dos Cariris/Guerra dos Bárbaros e foi a tragédia mais longa e sangrenta em terras nordestinas.