Nutri, durante algum tempo, uma espécie de ranço preconceituoso com relação àqueles que acumulavam as funções de poeta, de artista plástico, de dramaturgo etc. Quem assim procedia, parecia-me querer açambarcar o mundo com as pernas. E que, não podendo fazê-lo, mostrava-se negligente, incapaz de dar conta do recado.
Àquela época eu sequer cogitava que as manifestações artísticas já não mais ocupavam compartimentos estanques, mas antes se fundiam e se inter-relacionavam para formarem um todo uno e indissolúvel. Quer dizer, desde o Romantismo, início da dissolução dos
Tama66
Pois bem. Esse Josafá de Orós*, que é de Orós, Ceará, mas que reside em Campina Grande, na Rainha da Borborema, é um excelente artista plástico e um competente poeta. No poema “Litania das palavras”, que me enviou, convivem o vate e o xilógrafo, esse ultimo através do artesanato, do labor, da pertinácia e da perspicácia com que escolhe cada palavra para compor a estrutura desse longo poema monotemático. E mais: embora seja um poema metalingüístico, o eu-lírico não é daqueles
Josafá de Orós
Quando o artista atua em várias frentes, acumulando as funções de xilógrafo, poeta, dramaturgo etc., ele outra coisa não faz senão conjugar esforços no sentido de encontrar a unidade perdida,
Josafá de Oró
Também o desdobramento de Josafá de Orós em outras esferas da práxis artística corresponde – guardadas as devidas proporções – à adoção de heterônimos, recurso através do qual ele procura tornar mais suportável o fardo da existência.
Enfim, eis o Josafá de Orós que eu sei: poeta e xilógrafo, xilógrafo e poeta, um nutrindo o outro, abastecendo-se reciprocamente, para o gáudio do seu público diversificado e uno.
*Josafá de Orós comparece com três poemas no livro “Engenho arretado” – poesia paraibana do século XXI, Patuá Editora, São Paulo, 2022, organizado por Amador Ribeiro Neto.