Sei que a coisa é séria, mas sempre brinquei dizendo a meus alunos que eu tinha TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e que eles precisavam estar sempre em círculo, sob a vista de todos, principalmente da minha, para que me sentisse à vontade na sala de aula. Os alunos riam e não questionavam, quando eu pedia para ocuparem as cadeiras lado a lado, sem que ficassem atrás uns dos outros, em uma segunda fileira de assentos.
A gente tenta levar na brincadeira, mas sabe que esses comportamentos repetitivos não são normais nem confortáveis. De simples manias, podem vir a se tornar um distúrbio capaz de provocar angústia, ansiedade e até incapacitar a pessoa acometida.
No meu caso, mesmo sendo tão automatizados e terem características mais voltadas para a mania, passei a observar esses comportamentos, que, em algumas oportunidades, eram considerados estranhos, esquisitos, como, por exemplo: andar pelas ruas somando números e tirando os noves fora das placas dos carros; procurar não pisar nos finos traços que separam os ladrilhos de uma calçada; ao abrir uma porta e fechá-la atrás de mim, dar dois passos para trás e depois voltar para conferir se está mesmo trancada; insistir que um quadro na parede precise estar centralizado e numa mesma distância, à esquerda e à direita, tudo, simetricamente, medido; os papéis empilhados não podem ter pontas dobradas nem ficar sem que estejam, exatamente, um embaixo do outro, assim como a comida no prato, organizada por cores, sendo consumida quase que em ordem alfabética, só para citar alguns.
Isso acontece sempre e certamente deve incomodar a quem o percebe. Digo isso, porque, com todo respeito por quem passa pelo inconveniente, em grau mais intenso e doentio, o que não é fácil, deve haver um tipo de atitude reversa, que é quando as manias dos outros perturbam você.
Odeio quando vejo portas de armários e gavetas meio abertas, assim como roupas às avessas, etiquetas aparecendo, panelas mal tampadas, sandálias viradas para baixo e lâmpadas acesas, sem que haja alguém no ambiente. (Sobre isso, uma amiga argumentou que essas condutas não são manias; são falta de educação...) A questão deve ser deixar as coisas sempre dessa maneira, inacabadas, sem término, sem fim para um começo que já inicia desastrado. O pior é que, quando isso ocorre a partir de outrem, nosso sentimento é de impotência e, em seguida, de impaciência.
Dia desses, após uma chuvinha, os últimos pingos das calhas passaram a cair em cima de uma lata virada para baixo que estava no quintal da casa vizinha. Meu Deus, que agonia era não poder ir lá e tirar aquela lata do lugar! Sem contar que, certa vez, faltou energia no bairro e, quando voltou, a cerca elétrica deles ativou o alarme, sem que estivessem em casa para desativá-lo.
Sabe aquelas músicas instrumentais que são usadas para meditação ou um rock usado nas academias de atividades físicas? Que tormento! E não é implicância, mas som alto e/ou repetitivo me atormenta tanto que saio depressa de qualquer lugar, por não aguentar o barulho.
Antes, eu até gostava de ficar ouvindo a conversa dos outros em fila de espera ou em algum local público. Hoje, não suporto quem fala ao celular perto de mim. Dá muita vontade de pedir à pessoa para falar mais baixo.
Às vezes, há momentos em que desejo escrever um manual de conduta em prol dos impacientes, os quais não enxergam suas manias, mas se enervam com as dos outros. Seria mais ou menos assim: Não fale alto, muito menos ao telefone; não bate as portas; não pise na grama; não roa as unhas; feche bem as gavetas, os armários e as torneiras; dobre, cuidadosamente, as cobertas e as roupas; coloque seus calçados um ao lado do outro e bem emparelhados; obedeça a ordem das coisas e, por favor, me deixe em paz!
E por aí vai...