O balanço das páginas abre mundos, personagens, vivos, mortos ou imaginários, tempos, coisas, cenas, ventanias. Histórias de criatividade real ou realidades ilusórias. Ondas de navegação ao tempo das caravelas, das canoas, dos monstros de aço que deslizam por calmarias ou tempestades pelos mares da imaginação autoral.
São encontros, perdições, arquivamentos. Suave é a noite acompanhada de uma boa leitura, inebriante é o olhar descrito nas folhas cheias de desertos das veredas dos grandes sertões. Cada um está encravado na criatura construída de verdades e mentiras do escriba.
Sim, é possível sentir o ar quente do noturno verão que sopra do mar feito açoite para os bem-vindos a Copacabana. É a alma em inquietude e devaneios diante do crime, ou mesmo, a sede de justiça onde só há castigo, sem delito ou deleite quando se está na carne crua.
Nas páginas, segue a busca por alcançar o ápice que solta da cabeça possibilidades e apreende os olhos, as mãos, o sentir enrijecido das pupilas em movimento frenético, capítulo a capítulo. Desimportante a solidão durar um século, pois a leveza agirá como força motriz a avançar às tramas.
E ao longo da caminhada surgirão amores, odores, flores, até a chegada da chuva que vem com destemor, que até perfuma a terra e retoma brincadeiras de todas as idades e retomadas em estruturas poéticas. Crias de mares mortos e revoltos pelo cantos das calçadas onde barquinhos seguirão até as terras do sem fim em uma longa pétala do mar.
São quase alucinações desconectadas. E em cada pavimento de madeira a soma de tantos fatos, ideias e loucuras. Lado a lado, antagônicos e ramos que se reúnem, dialogam. Metade de muitos lados adormecidos são fechados enquanto as páginas se beijam. Abertas, libertam falas e vazios.
A cada deslizamento das letras pelas brechas das páginas, as palavras em um torvelinho de construções criativas invadem as mentes leitoras. Soltam ligações perigosas, grandes esperanças, ensaios e revoluções, almas mortas, traduzíveis sensações.
As vidas já não secam, a noite traz sono tranquilo, insônia só da obra de arte literária. Ler, é felicidade clandestina, é um sopro de vida, é uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. É luz que ultrapassa a película escura da janela e joga-se sobre a mente. É verdade que desmente negacionistas, que esclarece dúvidas.
Os volumes guardam pesos de histórias e de autores. E aguardam os leitores para se alimentarem. Os livros são máquinas do tempo que tornam duradouras as efemeridades e rápidas as eternidades. Têm poderes mágicos, encantadores. Em um canto, muitos tamanhos, vários contornos, múltiplos encadernamentos, coloridos personagens.
E cada livro aberto é um sorriso liberado. É um salvamento. É como se um salva-vidas fosse lançado para o ser que está do lado de fora.
Os livros salvam mundos... O mundo precisa salvar os livros.