Uma sombrinha. Mero objeto perdido no último sábado no Mercado Central. Ela escolhendo banana e laranja. Soltou o amparo e se deixou ...

Sombrinha

conto feira livre chuva
Uma sombrinha. Mero objeto perdido no último sábado no Mercado Central. Ela escolhendo banana e laranja. Soltou o amparo e se deixou o olhar se encantar com as frutas bem nutridas. Saiu. A chuva recolhida nos pedaços de nuvem sem pingos. Só ameaça. Dona Maria, me dê um bago. Ela surda, pisando o chão lavado pela chuvarada, contando as notas restantes do auxílio, a evitar as poças coalhadas aqui, ali. Carne?' Nem pensar. Cara. A cara de d. Maria era envelhecida, esburacada, franzida. Arrisco, se muito quarenta anos de pobreza.

Dona Maria (nem sei se é o nome dela) passa, olha e resiste além do feijão e carne. Os filhos pequenos esperando. O marido noutros territórios com uma Maria mais nova.

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Marc Falardeau
Foi quando recomeçou a chover com força. Procurou a sombrinha. Onde a teria esquecido? Nas frutas. Correu para lá. Molhada e aturdida.O vendedor das laranjas e bananas não sabia de tal agasalho.

A pobre Maria se amparou na marquise do mercado. Essa chuva vai longe. Quem disse foi uma desconhecida, enquanto riscava o chão sujo com a ponta de uma sombrinha. D. Maria acendeu a vista por trás dos óculos e identificou de lance: era o precioso objeto perdido. Encontrara.

Falou no ouvido da mulher portadora do amparo: "Esta sombrinha é sua?". Começou a zorra. D. Maria puxou com força seu pertence. A outra avançou com raiva.

A Polícia chegou e tudo parou no tempo e no espaço. Mansa a mulher desconhecida. D. Maria altiva. Os militares indagaram como d. Maria provaria ser a dona real da sombrinha. A mulher sem pestanejar pediu que olhassem seu nome gravado no cabo de madrepérola. Conferido o nome com o documento de identidade, os militares fizeram retornar à posse da preciosidade para d. Eulália Francisca de Assis. Só assim o escritor desta crônica ficou sabedor do verdadeiro nome da mulher da sombrinha.

D. Eulália risonha abriu a estimada protetora contra água de chuva e sol forte, mesmo com duas hastes pensas e sumiu.

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