@RioRecords
Ambos têm uma bonita infância, onde predomina a camaradagem e a elevada estima mútua: são amigos inseparáveis. Crescem explorando os recantos da fazenda, sempre em brincadeiras.
Mas um dia eis que chega a diferença: o menino branco tem acesso à educação, e parte no trem para estudar na capital. Já o outro, direitos não tem. Resta-lhe apenas o consolo do retorno do companheiro para dar continuidade à amizade.
Ao retornar à fazenda, com a formação completa e já casado com outra branca, a sinhazinha, o homem branco assume a direção da propriedade. E dá conhecimento da realidade para o antigo companheiro negro: ele é apenas um empregado. Grande é a decepção deste.
E assim termina a história, sem um final feliz. Canção bela mais triste.
Essa nada mais é do que a realidade social do Brasil atual. Anos atrás tivemos o prazer de assistirmos na cidade de Bananeiras a uma palestra, muito concorrida, do excelente escritor paranaense Laurentino Gomes, a quem fomos apresentados logo após o evento. Um gentleman!
Laurentino Gomes @laurentinogomes
O tema da conferência foi justamente o escravagismo. Com a habilidade que lhe é peculiar, durante horas o escritor demonstrou que esse sentimento está entranhado na sociedade brasileira desde o século 19.
As suas pesquisas, exaustivas e realizadas com muita profundidade, demonstram profundo conhecimento do assunto. Narram que em 1888 a princesa Isabel promulgou a libertação dos negros escravos no Brasil. Porém a sociedade brasileira, especialmente a elite, nunca pôs a abolição em prática, reagindo de tal forma que marginalizou o negro brasileiro, resultando num pensamento racista passado de geração a geração, até os dias de hoje.
Documento da Lei Áurea / Princesa Isabel de Bragança Senado Federal
A escravidão no Brasil é o tema de sua completa trilogia, a mais recente. Laurentino defende a tese de que o sentimento de escravidão nunca deixou a mente da maioria do brasileiro branco. Ou elitista.
Encontramos esse comportamento com muita frequência, quando observamos as relações patrão-empregado. E se estende a todas as pessoas das camadas sociais mais inferiores, independente de sua cor, pesando muito mais o status social, a condição econômica.
Portanto, eu acho que o racismo está no nosso DNA. Porém, só aflora quando permitimos ou somos estimulados. Concordo com
Germano Romero : de todos os preconceitos, o pior é o racismo. Mas pode-se muito bem controlar, basta querermos.
Curiosamente, esse sentimento exacerbou-se nos últimos anos.
Foi como se boa parte dos racistas da sociedade brasileira tivesse
encontrado terreno fértil para sair do armário, espocando diversos
casos pelo país.
Zulmaury Saavedra
Muitos exemplos têm sido vistos Brasil afora. O mais recente foi
o espancamento de um entregador negro por uma mulher branca,
que usou como chibata a guia de seu cão. Chocante! Só faltou o
pelourinho...
A mulher que agrediu o entregador é ex-atleta, professora de
voleibol, e é possuidora de uma folha corrida em que constam
outros episódios de violência e furtos de energia elétrica para a
sua escola.
Ela é portadora, portanto, de uma caráter que é uma miscelânea de
arrogância, orgulho, preconceito, agressividade e desonestidade, e
apesar de todos esses agravantes, é cheia de direitos. Esse é
um exemplo clássico do pensamento de boa parte das nossas
elites.
Tudo isso vem corroborar a tese de Laurentino Gomes, provando
que, de uma forma generalizada, em pleno século 21 a sociedade
brasileira continua ocupando a casa grande, a qual defende com
unhas e dentes. E que nunca aposentou nem desmontou a senzala.
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