A memória afetiva, que está enraizada em um passado e se manifesta na beleza da simplicidade, também é constituída de pertencimento. Geralmente uma boa lembrança faz bem à sensibilidade. Esse processo torna o ambiente mais agradável e produz respeito na convivência humana. Considerando isso, o afeto humaniza o indivíduo a adaptar-se às transformações da sociedade, bem como a reconstruir os seus projetos de vida. Diante disso, o exercício de empatia ajuda a colocar-se com compaixão no lugar do outro, isto é, de quem vive ou viveu a própria história.
Essa habilidade socioemocional estimula o bem-estar nos relacionamentos.
O cérebro humano sempre registra de forma consciente e inconsciente a realidade física e todos os comportamentos. Por exemplo, quando se está feliz, alguns reagem de forma semelhante; quando alguém está triste, outros são influenciados por essa sensação. Consequentemente, os bons afetos compartilhados geram uma harmoniosa mudança sensorial no local, que potencializa práticas positivas nos processos de trabalho e mais solidariedade nos relacionamentos. Por causa disso, percebe-se que cuidar do outro é cuidar de si. Esse acolhimento prioriza o respeito entre os diálogos e mantém o amor à vida.
O tema do afeto, da felicidade e do amor foram estudados pelo filósofo grego Epicteto (50 d.C. - 135 d.C.). Ele afirmava que uma vida feliz é a realização pessoal e surge de atitudes virtuosas, entre essas estão a serenidade e a paz. Ele foi filho de uma escrava, nasceu em Hierápolis (atual Turquia) e viveu em Roma como escravo do cruel Epafrodito, que quebrou uma das pernas de Epicteto quando muito jovem. Essa brutalidade o deixou manco e de saúde frágil. O perverso foi o chefe dos guarda-costas imperiais e secretário do imperador Nero (37 d. C. – 68 d.C.). Entre os anos de 89 d.C. até 94 d.C. Tito Flávio Domiciano (51 d.C. – 96 d.C.), líder supremo do poder romano no Ocidente e no Oriente, expulsou todos os filósofos da cidade de Roma. Isso permitiu a Epicteto adquirir sua liberdade e retirar-se para a cidade de Nicópolis, onde abriu sua escola de Filosofia; também divulgou seus livros, dos quais estes: Manual de Epicteto, e Os Discursos.
O conjunto de sua obra continua influenciando as gerações nesses mais de dois mil anos. Seus ensinamentos para uma vida feliz são encontrados em seu manual com conselhos éticos estoicos para ser usado ao cotidiano. Nesse estoicismo, mantém-se a fidelidade ao conhecimento e prioriza-se o que pode ser controlado somente pelo próprio indivíduo e despreza-se todos os tipos de sentimentos externos, entre esses a tempestividade da paixão e os desejos intensos e impossíveis. Para Epiteto o que preocupa os indivíduos não são as coisas em si; é, sim, os seus julgamentos acerca delas.
O Manual de Epicteto ajuda a enfrentar e a dignificar as dificuldades da existência. Ensina que não se deve trazer para si aquelas coisas que não estão sob o próprio controle, pois isso o conduz a ser escravo delas. Contra isso, deve-se concentrar os esforços no que só é possível administrar com serenidade e compaixão. Por exemplo: criar uma memória afetiva no que a vida oferece e buscar transformar, quando for possível, algo como um bem para si. Ele afirma que a sabedoria é uma virtude nobre para harmonizar os relacionamentos, permitindo a boa fortuna, além de ajudar a desfrutar o bom uso da saúde, bem como a suportar uma doença. Diante disso, pode-se afirmar que essa nobre virtude permite ao homem ser livre... e a viver bem e a morrer bem.
Vejamos alguns ensinamentos de Epicteto:
“A vida fica muito mais fácil quando deixamos de tentar controlar tudo à nossa volta. É preciso entender que existem aspectos de nossa vida que podemos controlar e outros que não podemos”
“Lembre-se da fragilidade e da condição natural das coisas. Os objetos, os bens sempre acabam, o mesmo para os seres humanos. Diante da vida, cada momento é único, e diante da morte é preciso aceitar a condição natural das coisas.”
“O inesperado pode acontecer. Não se deve criar expectativas. É necessário deixar-se surpreender pelas boas surpresas e não se desesperar pelas ruins.”
“Não temos nenhuma posse nesta vida, tudo que consideramos nosso, nada mais é do que um empréstimo temporário, o qual pode ser retornado no final de nossa vida ou antes. Você não pode perder o que você não possui, você não possui nada para perder.”
“Lembre-se de que nem sempre aqueles com mais poder e dinheiro são mais felizes, eles jamais chegam à verdadeira felicidade. Limite-se apenas às coisas que você pode organizar bem. A liberdade e a felicidade estão dentro de você, não estão nos títulos e posses.”
“Em cada projeto que você empreender, saiba que cada aspiração envolve esforço e tempo. O tempo é curto, se concentre no que você escolheu para si mesmo.”