AVÓ Há boniteza neste envelhecer que aflora Há candura, desapego e calma Há sabedoria e humildade Mais pressa em realiz...

Foi para ser avó que vim ao mundo

poesia mineira cristina porcaro
 
 
 
AVÓ
Há boniteza neste envelhecer que aflora Há candura, desapego e calma Há sabedoria e humildade Mais pressa em realizar sonhos Mais percepção do que é verdade E o coração...ah! O coração Guarda cicatrizes que já foram costuradas Vira rios que às vezes transbordam Quebranta-se, desdobra Alarga-se e aquece Não mais impetuoso e feroz Nem se desperdiçando em amores que não prestam Envelhecer é brando, mas tem memórias Imperecíveis e eternas O som de uma voz, o cheiro de um perfume O calor da mão que afagou o corpo O beijo antes da chegada da morte A caixa onde vivem retratos que mostram Momentos que a alma feliz, gargalhou. Tudo se aprende após o envelhecer Que se pode amar e desamar sem culpa Que as coisas belas deixam o coração entreaberto Que o corpo ainda se alastra de prazer E que as dores e alegrias da vida Misturadas à explosão de outras vidas Serão sempre eternas Por ínfimos instantes que existiram Mas, concluo que é no envelhecer Que acontece a mágica de nos fazer avós Que nos permite vivenciar um amor infinito por um ser Que não é nosso, mas que é totalmente nosso Que nos faz viver este paradoxo De desvendar o mistério do nascimento deste ser Que chega para alinhavar com perfeição A continuidade da estrada da nossa vida Seguramente foi para ser avó, que vim ao mundo
POEMA DO ADEUS
Estou numa faina louca para retraçar minha vida Quero esquecer o quanto você acenou como construtor de ilusões O quanto acreditei em suas sinceras mentiras E mesmo desconfiada, Embarquei em sua nau do futuro Vezes sem conta, colei minha desordem à sua boca E sequiosa e venal entre os lençóis Dei meu vasto querer ao seu corpo Isso, sem contar as vezes que me transformei em sal, lua, pedra, semente Fluindo em plumas, ave púrpura lhe derramando delicadezas Você lembra? Mas nada perdurou Os olhares com os quais você me atraiu Que um raio me parta em duas por neles ter acreditado As palavras ditas e as não ditas também Voaram com o vento, desfizeram-se em pó Perdurou, sim, a lembrança das doidices que compartilhamos Das viagens que fizemos Dos casos que contamos Das centenas de garrafas de vinho com as quais nos embebedamos Mas, confesso que sempre me faltou a essência da certeza E por isso venceu-me, o cansaço, Venceu aquela história guardada comigo E que por mais eu tentasse, não consegui sair dela Afinal, estou me despedindo de você para buscar um novo começo. Posso jurar com os pés juntinhos E debaixo do manto de Nossa Senhora Que nunca mais compartilharei meu carinho Meu sentimento de profundo companheirismo Com alguém que não entenda o que isso significa. Levo comigo uma saudade grande Dessas que certamente, às vezes, me farão chorar Mas tão exato quanto o começo é a necessidade do fim E hoje, estou dando adeus à insensatez E ao equívoco que foi viver com você.
HOJE
E que venham os beijos. Apaixonados, impetuosos e arrebatadores. Que venham os beijos Frios, castos, sedutores e desavergonhados. Que venham os dramáticos, intensos, até cruéis Aqueles que marcam, escravizam, depravam E que nunca nos faltem beijos Com ardor de fogo Em fervuras saciadas Para atiçar a vida Para poder morrer Carregando na memória Todas as bocas beijadas.
(dedicado ao Dia do Beijo - 13 de abril)

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