A inveja é o mal-estar que surge da incapacidade de adquirir algo quando se tem como referência um objeto de êxito do outro. Ela se manifesta na sensação de apequenamento, isto é, de frustação. Geralmente, é um sentimento autodestrutivo.
O “estado psíquico do fracasso” é o resultado de bloqueio do processo de automotivação. As causas desse insucesso são geradas na personalidade dissociativa, que frequentemente ocorre no interior ou no exterior do invejoso. A de origem interna é constituída de imperfeições emocionais como a falta de confiança, também do armazenamento do medo de situações sociais que o impede de cumprir uma finalidade; as de origem externa são influenciadas pelas condições que estão fora do controle dele, a exemplo da convivência com indivíduos que pensam de forma pessimista e intolerante.
As duas situações — interna e/ou externa — danificam alguns aspectos cognitivos vitais para constituir o sentido de sobrevivência, que são: o desenvolvimento do pensamento crítico, científico e criativo; a capacidade ao autoconhecimento e ao autocuidado. Outro sintoma desse dano é a perda de habilidades socioemocionais diante do sentir, pensar e agir. Por conta disso, tem-se a ausência de empatia e de cooperação nos relacionamentos, impossibilitando o invejoso de realizar algumas tarefas simples ou as mais complexas.
O comportamento imaturo e intencional apresenta a finalidade de sensibilizar alguns indivíduos através de um estado de vitimização ou por um abusivo apelo emocional. A inveja é movida por ódio. Ela surge com a finalidade de forçar a infelicidade alheia e dá-se através da própria alienação.
Os estudos sobre a inveja receberam contribuições de filósofos e psicanalistas. Nos dias atuais, os que mais se destacam são da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882 – 1960), do psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan (1901 - 1981), do polímata e filósofo grego Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) e do filósofo, teólogo, poeta dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard (1813 – 1855).
Melanie Klein escreveu o livro Inveja e Gratidão e outros trabalhos (1957). Seus estudos apresentam a inveja na organização e no desenvolvimento psíquico desde os primeiros dias de vida de um ser humano. O sentimento vital de sobrevivência é dirigido ao seio materno de duas formas: a que é considerada pelo recém-nascido como um “objeto bom”, quando nutre e acolhe; a outra, como um “objeto mau”, enquanto o bebê sente a sua ausência. É nessa falta, no querer e não ter o peito da mãe, que surge a inveja e o neném experimenta a angústia e a agressividade em sua forma mais destrutiva. A dualidade faz com que o lactente assegure e preserve a existência do “seio bom” e volte a sua agressividade para o “seio mau”. Quando, por algum motivo, essa divisão não é possível, ele terá dificuldades de proteger o “objeto bom” dos ataques do “objeto mau”. Consequentemente, o bebê sente-se privado da gratificação do seio. Essa angústia também estará presente nas suas fases de vida. A dificuldade de manter a gratidão gera um sentimento raivoso para alguém que possui e desfruta de algo desejável, bem como apresenta impulsos para destruição com um violento aspecto de aniquilação dentro da identificação projetiva. Por isso, a inveja gera um sofrimento na criança e no adulto ao ver que outra pessoa possui o que ele quer para si. Na fase adulta, o invejoso sente-se bem com a infelicidade dos outros, sendo qualquer esforço inútil para satisfazê-lo.
No O Seminário — Livro 11 (1964), Jacques Lacan apresenta a inveja como um afeto, ou seja, um circuito que forma um laço social próprio à racionalidade do "eu" e do "outro". Seu aspecto real surge da inexistência de uma relação predefinida com o outro, por exemplo, relações mãe-filho. No aspecto imaginário, a inveja tenta assegurar a relação com o outro, de modo a transpor essa falta com uma tentativa de fixar no outro o próprio "eu", a partir de projeções e introjeções que pertencem à constituição do "eu". Portanto, vê-se no outro algo que se torna o seu "eu". Percebe-se em si mesmo algo que surge no outro. Isso ocorre em virtude de a inveja ser uma fratura nesse processo, sem que um "eu" consiga delimitar seus limites com precisão.
Aristóteles, em sua obra Retórica, na parte II, dedicada às paixões, apresenta os meios que dão origem aos afetos e os cessam, e de que forma a inveja surge. O filósofo grego afirma que, geralmente, o indivíduo sente inveja de quem é igual ou parecido consigo. Entretanto, ele (o indivíduo invejoso) só adquire vantagem a que julga somente a si pertencer. Os invejosos seriam todos aqueles que possuem quase tudo o que desejam e que, apesar disso, por sua ambição, jamais se bastam e incomodam-se com todos a sua volta. Em sua descrição, Atistóteles argumenta que a inveja surge com quem, por mais variados motivos, se rivaliza. O sentimento também agride ou destrói, em igual medida, o sujeito medíocre, pois, no seu nivelamento baixo, ele não admite alguém acima do próprio apequenamento.
Soren Kierkegaard analisa a inveja como uma condição de sentimento negativo. Ela atua como um princípio regulador, que tem a propriedade de estimular o ressentimento e a hostilidade entre os seres humanos e também de aprisioná-los numa negatividade absoluta. Além disso, age como uma forma de balizar as ações e os pensamentos, destruindo a dignidade da pessoa.
As consequências da inveja geram doenças emocionais. Algumas são curadas por psicanalistas, psicólogos, psiquiatras ou por terapia, a exemplo do exercício de alguma arte. O tratamento atua na individualidade do invejoso, a fim de reconstruir os afetos nos relacionamentos, bem como a empatia e a solidariedade. Noutro enquadre, quando a doença surge raramente, a cura pode ser alcançada mediante o cuidado com a autoestima, de forma a evitar o sentimento de inferioridade.
Os procedimentos mais eficazes contra a inveja são: dedicar tempo a se autoconhecer; valorizar as próprias qualidades; evitar comparar-se com os outros; não se angustiar por algo que não pode ser mudado; reconhecer que todo ser humano é único e cada um deve cuidar de si mesmo; entender que é normal possuir defeitos e é possível superá-los; admitir que a maioria das pessoas são infelizes. Por isso, deve-se exercitar a empatia e a solidariedade a todos.