Houve uma época em que lemos um bocado sobre a história da nutrição, inclusive participamos de cursos com Dr. Flávio Zanatta, bioquímico carioca, discípulo do professor George Ohsawa, fundador da Macrobiótica, teoria alimentar afinada com a Filosofia do Princípio Único.
Desde quando o conheci, em 1983, há 40 anos, deixamos de comer carne vermelha. Há uns 4 anos, optamos por não mais nos alimentar de carne de nenhum animal.
Entre as questões que Zanatta ressaltava, uma despertava muita atenção: a importância da energia do princípio vital que existe no alimento natural, cujas quantidade e qualidade variam entre si. Folhas, frutos, legumes crus e grãos, a nutrição integral, não processada, guardam elevado índice desse princípio que faz muito bem ao organismo (corpo e espírito, aura e emoção). Um grão de trigo, por exemplo, pode ficar 200 anos em uma prateleira, em boas condições climáticas, e ainda germinar, caso seja plantado, segundo dizia Zanatta nas aulas. Quanta energia!
Esta energia vital chamada “KI”, transfere-se ao corpo com muitos benefícios, inclusive à harmonia dos sentimentos, dos impulsos emocionais e até na seleção e filtragem dos pensamentos.
Infelizmente, a indústria decepou os grãos, tirou-lhes a casca, o gérmen, a película, refinou o miolo para torná-los “macios” e fáceis de armazenar por muito tempo em seus estoques, sem deteriorar com tanta rapidez quanto os alimentos puros, sem conservantes. Isso destrói, segundo conceitos da nutrição integral, a energia vital própria do alimento natural.
Além de tudo, a alimentação industrializada foi contaminada com todos os tipos de aditivos químicos, inclusive açúcar (terrível ingrediente). Basta ler no rótulo de alguns biscoitos, de um pote de margarina ou mesmo de um sorvete “de marca”, o quanto de artificialidades contêm. Zanatta dizia que a indústria química é tão poderosa, que pode ser capaz de “transformar um molambo velho em um bife delicioso”. Apenas com os ingredientes aromatizantes, edulcorantes e “amaciadores”.
Há também vertentes espiritualizadas a defender a possível condensação de energias pesadas, advindas do sofrimento dos animais, que variariam de intensidade segundo a forma como são tratados em cativeiro e abatidos. Como se tais vibrações ficassem impregnadas na carne morta e, de alguma maneira, fossem transmitidas à aura de quem as ingere. Outras mais científicas, apontam para a maior produção de toxinas intestinais, na alimentação carnívora, principalmente em climas mais quentes. A alimentação é hábito extremamente pessoal, com estreitas relações culturais, climáticas, medicinais, filosóficas e até religiosas. Romantismo, espiritualismo e cientificismo à parte, este assunto foi e sempre será objeto de muitos estudos que, decerto, virão com a evolução do conhecimento. E, como se constata na história, são hábitos condizentes com as etapas por que passou o ser humano, desde quando rasgava carne crua com as presas, à época bem afiadas, até quando perdeu os caninos com o advento do fogo e o surgimento dos grãos e cereais, associados à mastigação.
A esse respeito, Flávio Zanatta costumava ressaltar em seus seminários a coerência em se alimentar de grãos, por se equivalerem cronologicamente aos humanos, estando ambos, como espécies, no topo da escala evolutiva dos reinos vegetal e animal.
Quando deixamos de comer bichos, um sobrinho afim, que é médico em Floripa, nos questionou sobre a necessidade de proteína animal. Mas alertei-o de que nos alimentamos de leite, queijos, ovos, iogurtes, e da proteína vegetal (que tem excelente qualidade) existente nos feijões, soja, cogumelos, brotos etc.
Três anos depois, enviamos os nossos exames de sangue para ele com TODAS as taxas incrivelmente dentro dos níveis mais saudáveis. Inclusive o hemograma. Ele se convenceu, surpreso, imaginem só. Aliás, há poucos meses, repetimos os exames, como costumamos fazer anualmente, e felizmente continuam ótimos!
Depois de tudo que li, pesquisei e conversei com médicos e nutricionistas, estamos convictos de que não há necessidade premente de se comer carne de animal. E sinto-me (confesso a vocês, sem discriminação nem preconceito algum sobre quem come) muito bem em não contribuir para a matança desses seres que vieram ao mundo para viver felizes como nós. Diferentes dos grãos, frutos e vegetais que, se não forem colhidos, murcham e caem. Ainda que o solo os mereça de volta, naturalmente.
Embora Allan Kardec haja ressaltado, há quase 200 anos, que o consumo de carne era compatível com o estágio evolutivo do ser humano, Emmanuel afirma “ser possível fazer a migração para outros tipos de proteínas: ‘a ingestão das vísceras dos animais é um erro de enorme consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana’”.
De acordo com Chico Xavier, “ainda há quem tenha necessidade desse tipo de proteína. Mas a mudança deve acontecer de maneira gradativa para o cardápio vegetariano, educando ‘o nosso organismo para realizarmos essa adaptação’”.
Quando conversávamos sobre este assunto com Divaldo Franco, em suas visitas à Paraíba, ele ria, confessava-se "carnívoro", dizendo que incorria neste “pecado”, do qual não conseguia se livrar. Ainda bem que seus 96 anos tão bem vividos e produtivos demonstram que outras energias lhe trouxeram vitalidade compensadora.
Não é nossa intenção criticar ou censurar quem come carne de animal. Na verdade, quando conversamos sobre isto, é sempre de maneira descontraída na intenção de nos enriquecermos com a troca de ideias e experiências, sem nenhuma censura à dieta de cada um.
Contudo, sabendo de que na produção de carnes para alimentação há procedimentos que envolvem mais ambição lucrativa do que sensibilidade no tratamento dos animais, é preciso refletir sobre o pensamento de um dos mais notáveis seres que já passaram pelo planeta:
“Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade”.
Leonardo da Vinci
Leonardo da Vinci