O quintal apinhado de fruteiras era saudade. Mudaram-se para um apartamento diminuto. Nele cabia o mobiliário, apertado, deixando um labirinto que conduzia à sala em “l”, dois quartos e cozinha. Na varanda não cabia, sequer, duas cadeiras de balanço. Somente a rede que não permitia fosse balançada. Abria-se a paisagem: edifícios longos, parecendo colados um ao outro. No pequeno apartamento de bairro mediano o casal idoso, na companhia de dois netos que criavam.
O velho reclamava saudoso das tardes vividas na velha casa; ele, à sombra do arvoredo, lendo jornais. Os passarinhos, as borboletas, até o formigueiro o tornavam feliz. A esposa conformada com a sina em morar naquele aperto, esquecera a antiga morada. Os netos eram assumidos pelos avós em decorrência desses desastres conjugais que tornam o casal não mais uma só carne. Portanto, o avô e a avó eram papai e mamãe para os garotões, por sinal gêmeos, patinando pela adolescência. Passavam os dias entre a escola e os vídeos do youtube.
Sem espaço, espalhavam roupas, livros sobre as camas, os olhos sempre colados nas mensagens das maquininhas. Pouco trocavam ideias entre si, muito menos com os velhos. Pareciam mudos. Os pais-avós saíam, voltavam, compravam, iam ao banco.
Eles totalmente alheios. Sequer lembravam da velha casa de onde vieram: no quintal subiam para tirar manga, mexer no rabo dos gatos, coisas dessa espécie, jogar bolinhas de gude. Atualmente, davam preferência ao zapzap. Indiferentes às chatas histórias do passado que o pais-avós contavam. Besteiras, que não lhes causavam interesse algum. E, no apartamento, então...
Uma tardinha, o toque do celular. Cansados de exercícios virtuais, haviam adormecido profundamente. Alguém foi ao edifício, chamou os rapazes, eles atenderam de mau humor. Os pais-avós haviam sido assaltados numa rua próxima ao edifício onde moravam. Não se ligaram no lamentável evento. Nem perguntaram se os avós estavam bem. Ficaram impassíveis como dois bonecos. Alheios, fora do ar.