Todos os sentimentos do mundo proclamam a sua poética, sobremodo quando alguém se põe em frente à obra de Augusto dos Augusto. E, em poucos lugares, essa sensação é mais presente do que Leopoldina, em Minas Gerais. Ali, há um Augusto imortal e, ao mesmo tempo, de uma intrigante ubiquidade.
Por isso, estar em Leopoldina, diante de seu túmulo e, especialmente, do tamarindo que hoje lhe dá uma sombra de conforto, foi como experimentar também as emoções desse sentimento de paraibaneidade, em torno da vida e obra de Augusto, numa irmandade com todos quantos adotaram o nosso poeta maior entre os seus.
Por isso, estar em Leopoldina, diante de seu túmulo e, especialmente, do tamarindo que hoje lhe dá uma sombra de conforto, foi como experimentar também as emoções desse sentimento de paraibaneidade, em torno da vida e obra de Augusto, numa irmandade com todos quantos adotaram o nosso poeta maior entre os seus.
Há um testemunho imanente de Augusto em toda a Leopoldina, e isso é tão presente como a sua própria obra. Visitar a casa onde Augusto morou, estar na escola onde lecionou e, finalmente, velar em seu túmulo é como reviver a história de um herói de nosso tempo. Ou de todo o tempo.
Num País tão econômico, para dizer o mínimo, com os seus heróis, e falo dos verdadeiros heróis, refiro-me àqueles que com sua obra alicerçam o arquétipo de uma gente, e fazem desses encontros líricos uma feliz indicação da celebração da vida e da palavra.
Falo da palavra, a matéria da qual nosso poeta se ocupou toda a vida, com uma mestria incomparável. Havia em Augusto um mestre, mas especialmente um mago no ofício e no manejo das palavras e toda a carga de afetos que torna eterna a sua obra, porquanto imorredoura.
Foi a obra de um homem, mas também a obra de todos nós. Em sua poética, é possível identificar como há um Augusto em todos nós, que clama por colher as lavas vulcânicas da usina de sentimentos, tão característica de sua obra visceral, humana e incrivelmente atual.
Mas, há também um Augusto como uma efígie e uma esfinge. Em cada nova leitura, uma revelação, pois eis que Augusto tem esse dom. E, das raízes de um inesgotável manancial lírico, novas sendas, outras realidades, magmas, desvelar do quântico. Augusto, um homem do seu tempo, e, especialmente do porvir e, por isso, devemos sempre nos prostrar frente ao totem de uma gente.
Encerro com um de seus poemas mais intrigantes, em que trata de sua luta com a palavra para concepção de sua obra:
O martírio do artista
Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!
Tarda-lhe a Ideia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!
Tenta chorar e os olhos sente enxutos!…
É como o paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra
Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!