Quando Nabor Vilar me deu a notícia do falecimento da irmã mais nova de Ariano Suassuna, desliguei o telefone com o pensamento voltado às turbulências do tempo do nascimento de Germana Suassuna, quando a Paraíba estava revestida de ódio e desavenças entre agentes políticos, uma onda que se espalhou pelas famílias, sem escolha de cor ou credo.
“Devido a sua aproximação com Ariano, achei por bem avisar da passagem de Germana”, assim se expressou o amigo que carrega nas veias o calor de Taperoá.
“Devido a sua aproximação com Ariano, achei por bem avisar da passagem de Germana”, assim se expressou o amigo que carrega nas veias o calor de Taperoá.
Pensei nos dias quando a família de Ariano sobreviveu às artimanhas que buscavam varrer da paisagem política seu pai João Suassuna, integérrimo e pundonoroso político de uma safra que não mais existe. Foi quando recriei na mente as cenas protagonizadas por sua mãe, dona Ritinha, recolhida aos recantos da fazenda Achauan, no Sertão de Sousa, para viver o luto pela perda de seu marido. Em face das ameaças, todos os dias ela observava o pôr do sol, mas não sabia se observaria o sol no amanhecer do dia seguinte.
Recorro ao historiador Dorgival Terceiro Neto e contemporâneos de 1930 para recuperar as paisagens daquele tempo, algumas sangrentas, registradas em revistas, em livros e nos jornais da época com a visão dos vencidos, como aquele cronista, alimentado na esperanças de que um dia os acontecimentos de 1930 sejam esclarecidos, em respeito à memória dos que foram silenciados.
Da conversa que Dorgival teve com dona Ritinha, passados mais de 50 anos dos fatos que levaram ao assassinato de seu marido, em uma emboscada no Rio de Janeiro, percebemos quanto era turbulenta a vida na Paraíba, antes e depois de 1930. Não somente na Capital, mas em todos os lugares onde houvesse simpatizantes dos Suassuna ou dos Dantas, estes eram obrigados a usar lenço vermelho ou colocar nas janelas um pano encarnado para não serem atormentados.
A carta-testemunho deixada por João Suassuna é um documento revelador de um coração preocupado com seus entes queridos e com o rumo da Paraíba. Viúva, com a pequena Germana ao colo, dona Ritinha era uma mãe que estendia os braços para agasalhar os demais filhos, cabisbaixos pela ausência do pai morto.
Nos momentos hostis, quando há pessoas que se retiram da vida, sem perder a força e beleza do olhar ao horizonte, sempre confiante, se espera que a espuma da paz emergirá, mesmo que seja onde existam tormentas, e então, alguém asperge radiância para contagiar os outros.
Mesmo nos momentos de dúvidas e incertezas, a experiência mostra que há momentos luminosos e que entre as pedras e o massapê seco surgem pequenas flores. Entre o espaço silente em que giram as estrelas nasce a esperança, porque é onde reside o Sol da vida.
Entre a dor e a esperança, o medo e a angústia, dona Ritinha suportou com altivez o clima que rodeava a todos familiares. Carregava o amor entranhado de mãe, que tudo suporta, porque conduzia o azeite que ameniza a dor.
Naquela época, do lado perdedor, muitos se escondiam temendo emboscada. Nas ruas da Capital, assim como do Brejo e Sertão, diante da inércia do Estado, as escaramuças entre as duas facções políticas eram crescentes, coronéis se armavam, senhores de engenhos tinham suas armas de prontidão que para acionar o búzio com um sopro.