Imagine que você é um contratenor iniciante e está celebrando com seus amigos, após uma apresentação num festival, quando recebe um telefonema de um dos organizadores do evento. A pessoa informa que um grupo programado para aparecer no dia seguinte em uma transmissão ao vivo do "Carrefour de L'Odéon", um programa de rádio francês, havia desistido.
E vem aquela súplica: você poderia substituí-los?
Bem, você tem 26 anos e nada a perder. Aceita com um sonoro: “Claro que vou cantar! Eu sou um cantor. Eu adoro cantar!"
Jakub Józef Orliński @francemusique
Está um calor de 30 graus e você se diz mentalmente: "Ah, é rádio. Ninguém vai me ver mesmo". Então decide ir de bermuda, tênis, uma camisa de manga curta meio aberta. E esquece de fazer a barba. Com você, segue seu amigo pianista, Alphonse Cémin, de shorts e chinelos, barba por fazer e cara de sono.
Jakub Józef Orliński @francemusique
A pergunta é: você manteria a apresentação?
Bem, tudo isso aconteceu com o polonês Jakub Józef Orliński - Countertenor. Ele inspirou profundamente e encarou o desafio. Cantou num misto de pureza e sensualidade, com sua voz cativante e sobrenatural, como bem definiu um artigo na The New Yorker.
O resultado foi uma revolução. O vídeo no YouTube viralizou e hoje acumula quase 5 milhões de visualizações.
Alphonse Cemin @francemusique
Desde a apresentação na Radio France, após o Festival de Aix-en-Provence, seu virtuosismo vem sendo louvado pela crítica. A agenda está lotada e os prêmios se acumulam.
@jjorlinski
Não bastassem tantas qualidades, o contratenor polonês esbanja bom humor e humildade, é campeão de break dance e tem uma beleza que o faz ser comparado ao David, de Michelangelo: "Corpo atlético, mandíbula quadrada, cabelos cacheados abundantes e olhos azuis impressionantes" (é, o povo da The New Yorker se derreteu por ele).
Jakub Józef Orliński (perfomances várias) @jjorlinski
Atraídos por esse histórico, centenas de jovens - que jamais deram atenção aos clássicos - agora lotam as salas de concerto para vê-lo.
Eu gosto de assistir-lhe cantar. No Messiah, de Handel, está perfeito. Seus dois álbuns são obrigatórios na minha lista do Spotify.
Gosto de pensar que, de vez em quando, a natureza faz surgir esses seres extraordinários para a gente lembrar que a humanidade tem potencial para fazer inveja aos deuses.