Romântico morrer
A luz do luar
Com a beleza
Branca do Anjo
Loiro
Já no asfalto
Sujo gigante
As contas
De Xangô
Um certo Deus dos trovões
Na ladainha
Dos tiros
Rezas não contam
Mas dança o rei
De machado duplo
Os deuses brancos
São mais poderosos
Eles se alimentam
De trigo e vinho
Enquanto nós de bala e sangue
Nossos Deuses
Falam línguas
Estranhas
Porque nunca aprendidas
Pelos que se acham o próprio Deus
Nossos Deuses
Cantam e dançam
Comem
Conversam
Nossos Deuses são múltiplos em nós
Flutua a lua
Na solidão
Da madrugada
Sobre o Atlântico
Mostra
Sua face que brilha
Seduz o tempo
E aquece os amantes
Faz reluzir através do mar
Uma estrada sobre as águas
Por onde passa Yemanjá
E deixa rastros de liberdade
Alumia
A lua
Esse mar atlântico
Que se deixou atravessar por tanto pranto
E quando do mar se escuta
Ecos do passado
São tambores
Dores e cores ao luar
Nas ruas
Esticado
E a tempo
Quase morto
O susto
Tanto incerto
Quanto branco
E absorto
Som
As noites
Mortas
De tédio
Véu
Azul
E a luz abajur
Do luar
Na moleira
Da sorte
Ninguém morre
De tédio
Nem de ré sustenido
E nenhum mugido
Reluz
Como relâmpago
No norte
Só Xangô troveja
E Oya risca o Céu
Hoje jantei a lua
E ela me embrulhou
O estômago
Cheio de luar
Eu lançei
Meu enjôo
Ao mar
E a lua iluminou
Meu poema
Hoje almoçei sol
E ao arder do sol
Também fiz poemas
Que aqueceram
Almas
Agora
Jejuo em paz
Eu não moro
Mais em mim
E de min
Levo um cão
Um gato
Um pedaço de pão
Eu não moro mais
Agora só traço linhas
Diagonais
Nas quais
Escrevo
Dedos
Lábios
Áis
Eu agora moro
No luar
Ouvindo nas madrugadas
Os uivos
Vindos
De Pandora