Domingo de carnaval, a folia corria solta nas ladeiras de Olinda. O frevo contagiava todos, difícil alguém ficar parado. Era o dia do ...

O beijo roubado!

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Domingo de carnaval, a folia corria solta nas ladeiras de Olinda. O frevo contagiava todos, difícil alguém ficar parado. Era o dia do maior bloco, o Elefante de Olinda, que passava arrastando todos, num imprensado em que os foliões ficavam quase sem tocar os pés no chão de tanta gente pulando junta.

Rosa sempre foi muito tímida. No trabalho não dava muita conversa para ninguém. Roupa discreta, estilo a recatada do escritório de contabilidade. Ambiente predominante masculino. Fazia questão de manter distância dos colegas e dos clientes. Mesmo assim, sempre tinha aquele que tentava uma aproximação, quem sabe, até chamar para sair. Nunca conseguiram.

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Frank Xavier Leyendecker
E foi justo no carnaval que essa aproximação aconteceu, porém, da forma mais inusitada.

Desavisada, Rosa vestindo uma fantasia sensual e bem maquiada — aqui eu posso, é carnaval — esperava por uma amiga no Beco do Beijo, como o nome já diz, lugar de beijos roubados. Tudo aconteceu em segundos, um pierrô se aproxima e rouba um longo beijo de Rosa. Sem ar, não deu tempo nem para recusar, e se entregou ao mascarado pierrô.

Nessa hora vem a multidão do Elefante, o mascarado e Rosa são arrastados pela folia. Rosa se entrega e desce a ladeira em êxtase. Perdida em todos os sentidos, quando chegou no largo da igreja foi que conseguiu sair da multidão. Estava toda suada, o coração acelerado, o corpo parecia que ainda pulava o frevo que continuava levando a multidão.

— Caramba! O que foi isso? E agora? E o beijo, quem será que me pegou daquele jeito. Ainda bem que é carnaval, ninguém é de ninguém mesmo — Mas a sensação do beijo ainda estava nos seus lábios. Continuou na folia de momo à espera de encontrar novamente o mascarado pierrô.

Carnaval passou, volta a rotina do escritório. Rosa continuava recatada do mesmo jeito, mas não esquecia do pierrô. Não comentou com ninguém. No escritório sabiam que Rosa tinha ido para um retiro espiritual. Se contasse, ia ferir sua reputação. Não poderia dar pistas da folia do Carnaval. Estava despreocupada, afinal, morava a mais de 2000 km de distância, era impossível alguém ter encontrado com ela, justo em Olinda.

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@GraciosaPaginaOriginal
Mas o destino gosta de brincar. Estava servindo um café para o chefe e um cliente assíduo, quando ouviu a conversa. Acredita seu Arnaldo que fui passar o carnaval em Olinda? Aquilo é que é folia, faz o carnaval no clube parecer uma missa. Eu fui fantasiado de pierrô, peguei uma belezura de mulher. Estava desavisada, lasquei um beijo de tirar o fôlego, nessa hora vem passando o maior bloco, o Elefante. Descemos juntos nos esfregando e nos beijando. Foi demais, mas perdi a danadinha logo depois. Até o dia de voltar procurei por ela. Fiquei apaixonado, e por uma desconhecida. Pois é meu camarada, logo comigo isso foi acontecer. Ano que vem volto lá, quem sabe não a encontro.

Rosa serve o café trêmula, respira fundo e volta para as suas tarefas, agora sabendo que o pierrô é apenas uma fantasia de carnaval.

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