E vamos juntando com calma
os pedacinhos de fé
esperança confiança
e nossas caras lembranças
costuremos uma peça
novo manto pra cobrir
nossas cabeças perplexas
diante dos novos fenômenos
nossa mente inquieta
nossas angústias com pressa
querendo se alojar
mas com cuidado, quem sabe
costuremos com desvelo
um véu para nossos cabelos
branquinhos ou cor de ébano
com cores de avelã
quem sabe surja o elã
que há muito esperamos…
Enfrentaremos os enganos
as loucuras e paixões:
medo e ingratidão,
inveja competição
ciúme a martelar
corações despedaçados
pelas miragens soberbas
pela nossa avareza
na ânsia de acumular
bens, amores, sentimentos
na voz, apenas lamento
nos olhos apenas lágrimas
na dor, sobrando tortura
na vida só amargura
mas na alma, calmas águas.
Quando o dia acorda
desperta minhas dores
também meus temores
em tempos sombrios…
Quando o dia acorda
cutuca meu corpo
mitiga meu copo
com o último gole
Quando o dia acorda
puxa meus lençóis
sopra meus ouvidos
tirando-me o pó
poeira dos tempos
em que eu sonhava
por essas estradas
em festa e alegria
onde a moradia
da doce esperança?
Será que minhas pernas
já desconjuntadas
tentando, a alcança?
Quando nascestes
tentei subir ao céu
queria pegar um pedaço para ti
trazer as blandícias que diziam ter por lá
no nosso quintal, junto ao teu umbigo, plantar
Não conhecia dos narcisistas
das cobras mães que engolem os próprios rebentos
arrebentando sua força, e necessidade de crescer
também desconhecia a força da mentira
da manipulação e inveja das próprias crias
da tentativa de calar suas vozes,
suas almas amolentar, moldando-os ao seu bel-prazer.
Desconhecia que mães narcisistas são perversas
não amam, não cuidam, não zelam
como atiradores de elite, espreitam
vigiam por horas, dias ou anos
aguardando o momento de alvejar!
Ah, como desconhecia tanta coisa
tanto trastorno, perversão e miséria
como uma mãe se transforma em fera?
Lacerando suas crias para se alimentar
sem que elas façam parte de sua cadeia alimentar!
Meus sacrifícios cruzaram o infinito
Em cada dobra do tempo, descobri esperança
Em cada retorno, encontrava as flores sorrindo
Nas tardes de março senti a carícia da brisa
O laceamento das injustiças antes perpetradas
No oito, a transmutação em guirlandas
de alfazema incensando a psicosfera.
Nas duras penas da existência
Cataloguei plumas para minhas fantasias
Do faisão o sabor da tenra carne
De suas penas, adereços para meus cabelos.
Com outras penas, desenhei sonhos
arquitetei projetos arquitetônicos
para proteger a segurança de muitos
e descrevi minhas dores, alegrias e inseguranças
ainda hoje, alquimizo penas
transubstanciando em outras procuras
outros significados e sentidos
coragem para enfrentar os desafios diários.