Li na coluna de Elio Gaspari, em O Globo, que o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, aos 98 anos, recolheu-se ao rancho da fa...

Jimmy Carter, um nome a ser lembrado

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Li na coluna de Elio Gaspari, em O Globo, que o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter, aos 98 anos, recolheu-se ao rancho da família para aguardar a morte. Está recebendo os chamados cuidados paliativos para enfrentar o fim com dignidade e um mínimo de conforto. É um nome importante na história mundial do século XX e também um nome a ser lembrado em nossa história nacional.

O presidente do Brasil era o general Ernesto Geisel, o homem que iniciou o processo de abertura “lenta, segura e gradual” do regime autoritário para a democracia. Começava-se, portanto, entre nós, a ver uma luzinha distante no fim do escuro túnel do arbítrio. Havia ainda muito autoritarismo em vigor, muitas prisões arbitrárias, muita violência. A “linha dura” militar opunha-se à abertura anunciada e conspirava contra o presidente, a despeito de toda a sua autoridade no seio das forças armadas. Momento delicado na caminhada rumo a melhores dias, com grande risco de retrocessos ditatoriais.

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Jimmy Cartsr Nara & Dvids
Nos EUA, o até então inexpressivo Jimmy Carter, governador democrata da Geórgia, é eleito presidente, para surpresa de muitos. Venceu o republicano Gerald Ford, que tinha sido originalmente vice de Nixon. Seu perfil já era então o de um perfeito liberal, no bom sentido da palavra, pois, quando governador de seu estado natal, lutou ativamente contra a segregação racial. Nos EUA, como se sabe, os liberais do Partido Democrata, sem serem propriamente de esquerda, estão à esquerda dos republicanos, estes sim, legítimos representantes de uma direita que não se envergonha de sê-lo. Peculiaridades americanas, que, a despeito de tudo, preservam uma das maiores e mais eficientes democracias do mundo.

Ninguém estranhou, portanto, quando Carter anunciou que a defesa dos direitos humanos constituiria uma das bandeiras de seu governo. Era, sem dúvida, um progresso. E também uma esperança. Principalmente para os países então dominados por governos autoritários, entre eles o Brasil. Geisel, conta-se, não gostou nada dessa história de direitos humanos; achava que era uma forma de intervenção estrangeira na política interna brasileira e fechou a cara – normalmente já fechada – para o presidente americano. Não foram fáceis, portanto, as relações entre os dois países, o que não surpreendeu os analistas.

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Jimmy Carter, Ernesto Geisel e Rosalynn Carter
Embaixada dos EUA
Carter não pôde fazer muito pela redemocratização do Brasil, a qual iria demorar ainda alguns anos para acontecer, mas contribuiu sim para que o processo de abertura iniciado por Geisel tivesse seguimento, o que não é pouca coisa. O poder efetivo e simbólico dos EUA era – e é - muito grande. Os militares brasileiros, por mais que quisessem, não podiam ignorá-lo. A democracia, cedo ou tarde, haveria de triunfar, com a força das coisas que têm que ser.

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Manifestações pelas 'Diretas Já' (1984)
Agência Brasil
Essa a importância de Jimmy Carter para o mundo e para o Brasil. Numa época de trevas, ele foi uma luz. Isto basta para assegurar-lhe um lugar na História. Ele que foi pessoalmente um homem simples, pacato, conciliador, razão provável por que não foi reeleito, cedendo lugar ao republicano Ronald Reagan, com outro temperamento, mais belicoso, típico representante da direita americana puro sangue.

Uma vez derrotado na campanha pela reeleição, Carter recolheu-se à fazenda da família, onde sempre se plantou amendoins, e passou a fazer palestras e a escrever livros, muitos dos quais de temática religiosa, testemunhos de sua alma de homem de bem, avesso às “pompas do mundo”. É antes de tudo um manso, daqueles que herdarão o reino dos céus, segundo a Bíblia. Essa a marca que deixará para a posteridade, certamente.

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Jimmy Carter e Rosalynn Carter (Georgia)
Embaixada dos EUA
Não sei se os brasileiros reconhecem essa importância de Jimmy Carter. Ou se persistem em considerar que tudo que vem dos EUA não presta, salvo os eletrônicos trazidos na mala para não pagar imposto. Tudo é possível, como dizia Machado de Assis. De minha parte, rendo homenagens ao ex-presidente, nesta hora em que se finda pacificamente sua existência, após uma vida longeva e útil. Que suas esperanças espirituais se confirmem e ele seja acolhido num bom lugar.

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  1. Caro Gil
    Efetivamente o Jimmy Carter foi uma grande figura política, naquela época, notadamente quando se sabe que os Estados Unidos ainda curavam a ferida do governo NIxon.
    Parabéns pela lembrança.
    Abraços, Arael

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  2. Joberto Sant' Anna10/3/24 23:50

    Vou usar este trecho de seu texto em um programa que tenho, 'A História da Foto': "Carter não pôde fazer muito pela redemocratização do Brasil, a qual iria demorar ainda alguns anos para acontecer, mas contribuiu sim para que o processo de abertura iniciado por Geisel tivesse seguimento, o que não é pouca coisa."

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