Houve o modismo musical do acordeão. Rara a menina não frequentadora da Escola “Mário Mascarenhas” que se espremia num daqueles becos...

Foles mudos

nostalgia cronica sanfona acordeon
Houve o modismo musical do acordeão. Rara a menina não frequentadora da Escola “Mário Mascarenhas” que se espremia num daqueles becos laterais da Miguel Couto e administrada pela competente d. Ozires Botelho Viana. Minha prima Vitória Maria fazia o curso. Ela e as colegas de geração se uniam, umas nas casas das outras, se alternando, a pauta sobre o tripé, os foles murmurando valsas, forrós, boleros. Lembro-me da marca preferida: “Scandalli”, branco, teclado e baixos manejados com orgulho pelas alunas.

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@studio.acordeon
A escola estreita em tamanho. Nos dias de concerto, geralmente no final de ano, íamos todos e ficávamos a bater palmas de incentivo para as acordeonistas. Geralmente, d. Ozires (não sei se com “s” ou “z”), surgia no palco, excelente dançarina, envergando um vestido rendado e em brilhos, rodopiava descalça, marcando o ritmo do bailado e arrancava vivas da pequena plateia aglutinada no mínimo auditório.

Também a filha, Letícia, aloirada, uma das professoras, entusiasta da formação artístico-musical participava ativamente das apresentações. Uma festa de encantamento para a geração que desconhecia frenéticos ritmos alucinantes e alucinatórios. Uma beleza de formação e
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Chris Chin
difusão da música selecionada, de bom gosto, excelente qualidade para ouvidos abertos a um lirismo hoje sumido da praça. Almas bem-educadas e tranquilas em diapasão com a cidade ainda provinciana.

Quem passa e olha vê o desmoronamento: a escola rompida e abandonada, entregue ao descaso, nada que lhe identifique como academia de uma geração que levou alegria, arte, musicalidade, através do choramingo agradável de foles, interpretação de composições de realce e que ali permaneceu a executar, pacientemente, os sinais da pauta. As meninas em esvoaçantes vestidos ou saias largas, soltando sorrisos e carregando os instrumentos com alento e empolgada essência de vida.

Há décadas, deparei-me com d. Ozires cansada. Conservava traços da bailarina. Soube que faleceu. Anos depois, Letícia, também. E minha prima, Vitória Maria. Calaram-se as acordeonistas da Escola “Mário Mascarenhas.

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  1. Como calaram-se quase todos os sanfoneiros e instrumentistas outros, que interpretavam e, consequentemente, defendiam a legítima música nordestina.

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  2. Não foi só o trombone de Radegundis que se calou, acordeonista e pianistas estão tocando hoje no além. Em Campina Grande, imperava dona Rosalinda no acordeon e a professora Djanira Barbalho no piano. Djanira era irmã d irmã do maestro Nelson Barbalho

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  3. Anônimo2/3/23 16:13

    José leite, não foi só o trombone de Radegundis que se calou. Em Campina Grande, lembro a professora de piano Djanira Barbalho, irmã do maestro Nelson ferreira

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  4. Sou Neide Medeiros, José LEITE. Relembro bons tempos campinenses .

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