Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.), filósofo grego, ao visitar o Templo de Apolo, na cidade de Atenas, na Grécia, ficou impressionado por esta inscrição entalhada no portal do santuário: “conhece-te a ti mesmo”. Essa frase o influenciou de forma a sugerir que para construir o conhecimento que está fora de todo ser humano, antes, deve-se conhecer a si mesmo. Por exemplo, uma de suas teses apresenta que
a felicidade está correlacionada com a própria virtude. Também fundamentou que esta pode ser interpretada como um meio para alcançá-la ou como a própria felicidade.
A filosofia antropológica de Sócrates resolveu questões que surgiam do convívio em sociedade, como a justiça, o bem, a moral, a verdade e tantas outras encontradas nas relações humanas e em si mesmo. As suas teses estão todas apresentadas nos livros escritos pelo seu aluno filósofo e matemático grego Platão (428/427 a.C. - 348/347 a.C.). Um dos diálogos platônicos é Protágoras, que expõe a conversa de Sócrates com este sofista. Eles discutem a natureza da virtude, se ela é ou não ensinável.
Protágoras (490 a.C. - 415 a.C.) foi um filósofo sofista da Grécia Antiga, a frase mais conhecida dele afirma que: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." Esse argumento expressa o relativismo tanto dos sofistas quanto o relativismo do próprio Protágoras.
Exemplificando-o, se o homem é a medida de todas as coisas, então coisa alguma pode ser medida para os homens, ou seja, as leis, as regras, a cultura. Diante disso, tudo deve ser definido pelo conjunto de pessoas, e aquilo que vale em determinado lugar não deve valer, necessariamente, em outro. Também significa que as coisas são conhecidas de uma forma particular e muito pessoal por cada indivíduo, o que vai contra, por exemplo, ao princípio de Sócrates de chegar ao conceito absoluto de cada coisa.
O diálogo de Protágoras com Sócrates defende que a virtude - areté (em grego) - significa a perfeição moral e política. É um caminho para a felicidade. Assim, age-se de acordo com algo que julga ser “bom”, independentemente da noção que se tenha do que é “bom”, pois, desejá-lo é o único meio de alcançar a felicidade. Por isso, a felicidade para Sócrates é a obtenção da maior satisfação possível, e está disponível ao ser humano. Este age de forma a obter a máximo realização, porque, segundo o diálogo Protágoras, considera-se aquilo que dá sentido à vida é algo “bom”. Entretanto, o contrário não ocorre, isto é, nem tudo que é prazeroso é “bom”. Nesse contexto, o livro Apologia de Sócrates, escrito por Platão, encontra-se esta afirmação de Sócrates:
“[...] Pois a virtude não vem da riqueza, mas da virtude vem a riqueza e todas as outras coisas boas para o homem, tanto para o indivíduo quanto para o Estado.”
⏤ Platão, 1995, 30 a 8- b4 ⏤
Nesse argumento, observa-se que nenhum bem material gera a felicidade. Também a riqueza e as propriedades não devem ser mais importantes do que a busca pelo aperfeiçoamento moral, porque a virtude é o único e verdadeiro bem. Considerando isso, os bens não morais não podem ser relacionados com a felicidade de alguém, ou seja, não são meios para alcançá-la e nem são objetos da felicidade. Por causa disso, ao agir de forma virtuosa, o indivíduo relaciona-se com o mundo de uma forma que usará todas as coisas disponíveis de forma justa e boa, independentemente de quais sejam, só assim, seria feliz. Consequentemente, algo é “bom” para o ser humano quando ele o usa moralmente, a partir do conhecimento de si mesmo, na própria virtude.
Sócrates, “o homem bom”, era o filósofo da praça pública. Os seus ensinamentos ajudam a questionar: “De que adiantava saber qual o tamanho da Terra ou se o universo era infinito..., se o homem não sabia conduzir a própria vida?” Para ele, o que importa é ajudar os indivíduos a descobrirem o que é bom, o que é justo, e o como se deve conquistar e viver a própria felicidade, a partir do próprio conhecimento interior, isto é, pelo autoconhecimento. E deve construí-la de modo incansável e sem mentiras sobre si mesmo, e nem buscar a satisfação de todos os desejos. Ele ensinava: “Ver tudo o quanto não precisava para ser feliz”. Outro conselho seu: “O homem que se conhece saberá como agir, trilhando o caminho correto, quanto mais virtuoso, maior será a chance de que seja feliz, porque fará bem a si e também aos outros”. Ou seja, será mais feliz e ainda ajudará os demais a construir a própria felicidade. Pode-se concluir – em Sócrates – que a virtude e a felicidade estão sempre unidas, porque essa unicidade está dentro do ser humano.