De tempos em tempos, uma palavra, ou grupo delas, se torna “chave” e passa a aparecer em tudo quanto é discurso, nas inúmeras esferas comunicativas, principalmente midiáticas. Foi assim para “adolescências”, “gratidão”, “potência”, “inclusão”, “lugar de fala”, “povos originários”, “afetos” e, mais recentemente, “etarismo”, entre tantas outras, só para citar alguns exemplos.
Fazendo uma pesquisa simplória no Google, encontrei essa informação: “Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etarismo se refere a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.
Fazendo uma pesquisa simplória no Google, encontrei essa informação: “Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etarismo se refere a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.
Sem querer minimizar a importância do tema e a necessidade de que realmente a questão seja debatida, eu nem queria falar sobre isso, e não falaria, se não me enquadrasse como pessoa incomodada e interessada no assunto, desde que saiu minha aposentadoria há cerca de um mês.
Nos últimos anos, eu já tinha percebido alguns movimentos externos “comiserativos” em torno de mim, principalmente quando resolvi, em meio à pandemia, que não ia mais pintar meus cabelos e os deixaria assumir a cor que quisessem ter, independentemente de que pudessem, supostamente, revelar minha idade e, consequentemente, denunciar minhas limitações.
Pois bem, segue uma pequena amostra sobre isso que acabei de falar. Estava eu numa fila normal para pegar um voo e um funcionário insistiu que eu deveria usar a de prioridade, constrangendo-me ao ponto de que eu tive que ser ríspida com o rapaz. Claro que ele queria ajudar, mas me senti ofendida, já que eu sabia que aguentaria estar naquele lugar por horas a fio e eu nem tinha sessenta anos ainda!
Numa outra ocasião, ao me matricular numa academia, a atendente insistiu que eu pedisse a meus filhos que me ajudassem a baixar um aplicativo que me auxiliaria a agendar meus horários de treino. Eu me senti, mais uma vez, muito chateada. Por que alguém da minha idade não poderia saber usar essa tecnologia? (Lembrei até de que muita coisa era eu quem tinha ensinado os mais jovens a usar). E olhe que nem falei aqui sobre os olhares das “novinhas”, ao se depararem comigo pretendendo executar, quem sabe, quase que os mesmos exercícios que elas.
Eu sempre tive todos os equipamentos de que precisava para otimizar minhas aulas. Mas quando ia montar um deles, geralmente surgia um aluno bem-intencionado procurando, a todo custo, colocar os cabos e ligar as tomadas, no ímpeto de me assessorar até que tudo funcionasse a contento. Mais uma vez e entendendo que queriam me auxiliar, nunca permiti que fizessem isso por mim e sempre fiz questão de aprender a usar qualquer parafernália que viesse a manusear.
Uma coisa é certa: o que houve, ao longo do tempo, foi uma involução no relacionamento entre jovens e pessoas mais velhas. Antes, falava-se em conflito de gerações. No caso, percebíamos que havia algum respeito ou até mesmo temor, e os embates eram mais velados. Não ouviam, certamente, mas pelo menos calavam. Depois, surge uma etapa ligada à invisibilidade, ou seja, os idosos passaram a não ser notados e a não terem momentos de interações efetivas com os mais novos, sendo ignorados e, no máximo, vistos como “trambolhos” impertinentes, que não tinham nada a oferecer. Hoje, o que temos é o desrespeito generalizado, o confronto, o olhar enviesado de quem acha que os idosos não são capazes de ter autonomia e estão com o prazo de validade vencido.
Nesse contexto, reconheço que é muito importante que haja pelo menos consciência sobre essa problemática, e que a insistência no uso de palavras referentes a essa temática possa trazer luz à discussão. Há, sem dúvidas, importante luta a ser estabelecida para se reconhecer que ser mais velho não significa estar morto, não ter mais sonhos nem perspectivas. Ser idoso é só mais uma das etapas da vida, no curso natural e implacável do tempo.