O sereníssimo encontro de doce e sal faz a mistura perfeita da natureza. As águas, a areia, a rocha, o verde, os corpos, o sol e a paz. A procissão adocicada serpenteia por entre tons enverdejantes e cinzentos do mangue em muitas curvas, algumas retas, várias vidas até o abraço com o salgado oceano dominante que se abre infinito.
Ali é o fim de um percurso de 58,7 quilômetros em mais uma fantástica viagem de um rio para o mar. O Miriri, que delimita os municípios de Rio Tinto e Lucena cria, oferece um espetáculo de águas e tela natural, especialmente durante as marés baixas do lado rio-tintense.
O caminho da aventura natural até a Barra do Miriri é pela área conhecida como Oiteiros, Rio Tinto. Por ali, uma trilha se abre (e se fecha) oferecendo ao ser disposto a razoavelmente longa caminhada pelos corredores de verde, as estreitas passagens em poucas clareiras, uma lagoa formada por água da chuva, áreas de mata fechada, caminhos bloqueados por árvores caídas, fruto dos temporais e muitos pontos de chão entapetado pelas folhas.
O verde se oferece em muitas belezas e tamanhos. Plantas que escalam outras, onde brotam orquídeas, partidas e renascidas. Árvores que se transformam em novas vidas, mesmo após o que seria o pseudo fim. A natureza encontra renascimento a cada desafio que enfrenta. A trilha se espalha e vira labirinto que os aventureiros desavisados e sem guia se arriscam à desorientação. Para os guiados por gente conhecedora da área, tudo é espetáculo.
O autor (à direita) com grupo de amigos na trilha de Oiteiros - Rio Tinto (PB)
Clóvis Roberto
Guia é importante. É pessoa com conhecimento da região. Traz informação e segurança. Ainda mais se o guia em questão for também um coveiro concursado. Motivo para mais boas histórias de se guardar como recordação.
Clóvis Roberto
O úmido ar interno da Mata Atlântica sem vento faz transpirar, suga a água do corpo. O líquido corporal flui como sal em suor. Cada passada requer atenção. A rota é cruzada e compartilhada com as famosas e solitárias formigas tocandiras que chegam a medir três centímetros, cuja picada é dolorosa e pode causar inchaço; e também pelas fileiras das vermelhas saúvas, conhecidas como cortadeiras, de mordedura bem dolorida.
A trilha é caminho rumo às águas de doce e de sal. Ela encontra-se com doces frutos. Araçá, oliveira, manga e outras tantas coisas. É jatobá e muitas nobres árvores que brotam do sal da terra. É cheiro de verde e também de uma certa resina do mangue, do natural.
Miriri vem de miri-r-y do tupi-guarani e significa “rio dos miris” ou “piris”, espécie de junco que brota na região que é paraíso na aproximação do mar, visitado por quilômetros de canaviais desde os tempos do auge do ciclo da cana-de-açúcar, anteriores à primeira metade do século 20. Miriri em sua barra é habitada por muitos siris curiosos que beliscam os pés dos humanos invasores durante o banho, como quem verifica de que material é feito o intruso. Nada de pânico, só um susto e motivos de lembranças para os visitantes.
Miriri é mais um rio dos paraibanos, em que seu beijo doce no salgado mar cria telas permanentes na memória.