Houve um tempo em que a depressão me pegou com tanta braveza que não sabia como sair dela. A pior época foi próxima às festas do final de ano. O Natal me fazia lembrar não dos presentes que deveria comprar e, sim, do único presente que não compraria. Cheguei a olhar um pijama que supostamente seria para ele, mas que, na minha loucura, usaria para senti-lo perto de mim.
Penso que todos sabem quando chegam ao fundo do poço. Eu precisei ir lá para começar a vislumbrar a claridade que havia no alto. Sabia que se não reagisse, daquele momento em diante, não sairia nunca ou então destruiria meus filhos e minha família. Vi o quanto estava egoísta em meu sofrimento e, até aquele momento, não pensara que essas pessoas, tão importantes e amadas por mim, estavam sofrendo com a partida dele e também que o meu sofrimento as estava afetando. Respirei o mais fundo possível, lutando para sair daquela apatia, da falta de amor-próprio e do que vi, não era a atitude que ele esperaria que eu tivesse.
Penso que todos sabem quando chegam ao fundo do poço. Eu precisei ir lá para começar a vislumbrar a claridade que havia no alto. Sabia que se não reagisse, daquele momento em diante, não sairia nunca ou então destruiria meus filhos e minha família. Vi o quanto estava egoísta em meu sofrimento e, até aquele momento, não pensara que essas pessoas, tão importantes e amadas por mim, estavam sofrendo com a partida dele e também que o meu sofrimento as estava afetando. Respirei o mais fundo possível, lutando para sair daquela apatia, da falta de amor-próprio e do que vi, não era a atitude que ele esperaria que eu tivesse.
Um querido casal de amigos me levou para uma igreja e comecei a acreditar que deveria mesmo abrir meu coração para que Deus fizesse dele uma base, onde eu me apoiaria para levantar e caminhar na vida. A fé, a compreensão da presença e o apoio de Deus foram a mola propulsora para eu enxergar quantos milagres estavam sendo realizados para minorar meu sofrimento, mas que eu não os distinguira até então. Descobri que espiritualizar a vida é usar uma força poderosa que pode trazer um novo significado ao que somos e ao que sentimos. A certeza da presença de Deus ao nosso lado é fundamental em todos os momentos, mas essencialmente nos de dor.
Aconselhada por minha irmã, profissional de Educação Física, comecei também a exercitar meu corpo.
Passei a caminhar sistematicamente pela praia tanto de manhã quanto ao entardecer. Eram momentos em que refletia e traçava meus objetivos para o dia seguinte. Comecei bem devagar. Forçava-me a não faltar às caminhadas, me encorajava para levantar mais cedo, a ter uma regularidade ao fazer meus trabalhos de arte e até a telefonar para algumas pessoas quando estava insuportavelmente triste. Tentava me inserir ao mundo novamente.
No primeiro dia do ano novo, fiz vários propósitos, cumprindo todos eles. O mais doloroso foi tirar a aliança da mão. Durante vinte e oito anos esta aliança foi a mesma que recebi no dia do nosso casamento. A sensação ao tirá-la foi como se amputasse uma parte do meu corpo. Tirei-a para soltar mais um dos elos que nos prendia um ao outro. No entanto, a aliança continuava tão presente, que eu me pegava rodando o nada em volta do dedo. Uma querida amiga me presenteou com um anel, mas não consegui e ainda não consigo usar nada neste dedo.
Meu outro propósito foi deixar de escrever diariamente para ele numa tentativa de eximi-lo do meu cotidiano, não lembrar a cada segundo o que deveria registrar para lhe escrever mais tarde, como se fosse possível que ele algum dia voltasse para ler o que eu registrara. Numa dessas estranhas coincidências, ao assistir a um programa de televisão, na parte da manhã, a apresentadora passa uma mensagem sobre o desapego, sobre desprender-se do passado. O que ela fala encaixa perfeitamente para mim. Depois daquele momento, doei quase todas as roupas dele, guardei fotos e as dezenas de cartões que ele me escrevera. Buscava bravamente enfrentar uma nova vida.
— Do livro “Tempo de contar telhas" a ser lançado pela autora