O dorso magrinho e sumido de um livro entre dezenas da estante a um canto da recepção de um consultório me desconcentra do que possa resultar, daí a pouco, da consulta. Começo a distinguir, de alguma distância e já meio desbotado, um episódio bem particular do meu trajeto.
Sem ter a quem pedir licença, e também sem ser notado, fui lá e, num fechar de olhos, me vi em 1978, na tarde friorenta, subindo a pé uma ladeira de Santos, São Paulo, em companhia de Carlos Roberto de Oliveira,
Álvaro Pereira de Carvalho
@auniao.pb.gov.br
@auniao.pb.gov.br
Essa editora foi a minha única aventura capitalista, minha e de Nathanael Alves, de sociedade fermentada pelo espírito aventuroso de Carlos, de origem tão modesta quanto a nossa, mas não vendo muita distância em pular do chão do empregado para o andar do empregador. A pretensão não era pequena, visava o Nordeste, elegendo autores sem fronteiras na região. Fomos inicialmente a Ariano Suassuna, que nos animou lamentando já ter confiado seu último trabalho aos prelos da José Olympio.
E nos veio a ideia, ali mesmo, atiçada pela conversa do próprio Ariano sobre os homens de 1930, de se reeditar o único de vivência política acidental, de um escritor de pretensões apenas literárias, com seus ensaios, alguns minados de veios filosóficos, enfim, um professor que se bastava e se notabilizava no seu ofício.
Presidente Getúlio Vargas - (Revolução de 1930) Senado
A cidade de 1930 – é o foco do livro - terreiro de tenentes e chefes revolucionários, um centro febril de conspirações, praça de guerra, tendo o professor Álvaro, um pacifista, na suprema magistratura, ele que fora escolhido nessa condição como vice, sucessor do guerreiro. Mas não querendo ser mais do que professor, mesmo na cadeira de primeiro magistrado.
Funeral do Presidente João Pessoa - (Revolução de 1930) Senado
Desceu as escadas do palácio sem perder um palmo da conduta de toda a vida, retomando, na postura de sempre, os degraus do Liceu. Era de outra espécie – escrevi, há anos, lembrando-me de um asterisco que chamava para a surpresa de Ménon ou outro discípulo de Sócrates ao surpreendê-lo numa de suas refeições: “Como o senhor passa mal, mestre!” E Sócrates: “Que diacho, e eu não sabia.”