Há mais 60 anos, o agente mascarado Flama, criação do jornalista Deodato Borges, iniciava suas aventuras em favor do bem, desvendava crimes e praticava a justiça. As aventuras do personagem eram ouvidas nas tardes de segunda a sexta-feira, pelas ondas da Rádio Borborema, de Campina Grande.
Depois do rádio, o personagem e seus amigos ganharam as páginas de gibis, cuja primeira edição impressa foi publicada em março de 1963. Mesmo conhecidas pela divulgação no rádio, as histórias em nova versão eram aguardadas com ansiedade. Como residíamos no sítio, não tínhamos acesso a esse tipo de publicação, mas o rádio trazia para dentro de casa as aventuras do herói que aprendemos a amar.
No horário certo, depois do almoço, sentava no tamborete ao pé do rádio “Canarinho” para viver com o Flama suas aventuras. O resto do dia, enquanto perambulava pelos campos ou fazia algum mandado de nossos pais, na imaginação eu reproduzia o episódio, bolava cenas a partir do que ouvia, imitava a voz dos personagens, copiava seus gestos, e às falas acrescentava o que imaginava. Muitas vezes tudo se passava na paisagem do sítio ou cidade de Serraria, porque conhecia Campina Grande somente de ouvir dizer.
Quando cresci — nem tanto —, atuando na mesma profissão que o autor das aventuras – o Jornalismo —, contei a ele o quanto me deliciava com as aventuras de seus personagens, falei do modo como absorvia os episódios. Deodato riu ao seu modo pacato e me respondeu:
— Nossa intenção era, justamente, criar na criança essa vontade de reproduzir o que escutava, de modo a desenvolver sua imaginação.
Afianço que Deodato conseguiu, pelo menos de minha parte, bulir com a minha imaginação e hoje percebo quanto aquilo foi bom para mim.
O quinteto da luta contra os perversos era formado pelo mascarado Flama, seu ajudante Zito, o delegado Laurence, sua filha Eliana e Bolão, ajudante cômico do herói. Depois do sucesso como seriado no rádio, seu idealizador decidiu transformar as aventuras do Flama em revista impressa, a primeira no gênero em quadrinhos na Paraíba, constituindo-se em grande feito do jornalista paraibano. Ele seguia o estilo dos quadrinhos de heróis da época, que faziam muito sucesso no estrangeiro e em nosso país, recheados de aventuras, que consistia no combate ao mal.
No primeiro número da revista, em “Bilhete aos Leitores”, assinando por O Flama, o autor apresentava a nova versão das mais emocionantes aventuras de seu herói para mostrar que, onde houvesse crime, sempre teria um defensor da lei. A ideia do seriado e da revista em quadrinhos era mostrar que o crime não compensa, que os maus serão castigados pelo que praticam e os bons são recompensados. A revista teve duração curta, pelo menos cinco números foram impressos, mas tiveram enorme aceitação junto às crianças, tornou-se referência e se constitui em marco na história dos quadrinhos paraibanos.
Neste mês, quando “As aventuras do Flama” completam 60 anos espantadas em forma de revista em quadrinhos, resta-nos homenagear seu criador, que escreveu o último capítulo de sua história em 2014, a partir de quando sua presença passou a estar nas fotografias, nos gibis, nas charges publicadas em jornais e nas conversas com os amigos. Deodato sobreviverá no personagem Flama. A arte imortaliza o artista.