Não é de hoje que a conheço. Aliás, nem posso precisar quanto tempo faz que essa doce criatura apareceu em minha vida, sem sequer pedir licença. Veio assim como quem nada quer e ainda está por aqui. Hoje mesmo estive com ela e por uns instantes fiquei contemplando aquele sorriso cheio de magia e encantamento.
Difícil descrevê-la. Este talento discreto que tenho para a escrita não me permite juntar aqui aquele punhado de palavras capazes de fazer cócegas no imaginário do leitor e que lhe permitam a possibilidade de se ter uma ideia, mesmo que muito vaga de quem seja essa criatura.
Teimoso que sou, vou fazendo minhas tentativas. Ao querido leitor e à estimada leitora fica aqui meu desafio: Descubram de quem se trata.
Os cabelos têm as cores de flores das acácias, mas não se apresentam em cachos, são lisinhos e se destacam numa franja delicada escondendo a testa bem proporcionada. Usa-os presos atrás, o que não me permite saber se ali está um coque, uma trança ou mesmo um discreto “rabo de cavalo”.
Tem um dos mais belos sorrisos que já vi; e o que o enriquece é aquele ar onde a inocência e a malícia parecem se misturar no mesmo cipoal de possibilidades. Ah, e os olhos? Meus amigos, minhas amigas, dois pedacinhos do céu, azuis como duas contas.
Mas, enfim, ficaria mais fácil se eu fosse buscar lá na telona algumas comparações. Isso, talvez, facilite a identificação. Há duas divas da sétima arte que me remetem a essa minha misteriosa personagem.
Vamos a elas.
Alguém se lembra de Julie Frances Christie, a Lara do filme Doutor Jivago? Foi por sua interpretação nesta película que ganhou o Oscar de melhor atriz em 1965. Para quem não sabe, é indiana, essa danada. Nasceu em 1 941 (hoje com 81). Quase foi uma Bond Girl em 1957 no papel de Honey Rider em o Satânico Dr. No. Só não foi porque o produtor achou que tinha seios muito pequenos para o papel e a vaga ficou para Úrsula Andress. Vestida de colegial e caminhando pela gélida Moscou e chegando na oficina de costura de mãe é de onde tirei a comparação. Ou quando estava de enfermeira atuando ao lado do jovem médico Yuri Jivago na guerra dos russos contra os japoneses. São cenas emblemáticas para mim e que me permitem comparar Julie Christie à essa minha amiga, se é que assim posso considerá-la.
A segunda é nossa eterna Noviça Rebelde; a outra Julie, a Andrews. Essa é de 1935 (87 anos). Inglesa, além de atriz foi – e é – cantora, bailarina, escritora, diretora de teatro e é claro, atriz. Se alguém assistiu ao filme há de se lembrar, logo no início da fita, a noviça Maria abrindo aquele sorriso para se desculpar com a reverenda madre por suas travessuras.
Julie Andrews marcou meu final de infância e começo de adolescência com dois filmes emblemáticos: The sound of music (A noviça Rebelde) e Mary Poppins e quem sabe tenha também marcado minha maturidade. Sem dúvida, uma das atrizes mais premiadas no século passado. Um Oscar como melhor atriz, dois Emmys, três Globo de Ouro e um troféu no Festival de Veneza e vários outros prêmios.
Tanto uma como outra envelheceram com ternura. Não azedaram e o tempo trouxe marcas, mas não lhes roubou de todo a beleza que as consagrou. Mesmo no adiantado dos anos, ainda conservam generosas frações da formosura que me encantaram.
Depois dessas referências, ainda não descobriram de quem se trata? Nenhuma ideia a quem me refiro no início do texto? Bem, devo então, fazer aqui a revelação. Não sei o nome completo e a conheço apenas como Gina. Quanto tempo faz que a conheço? Não posso precisar.
Ela é quem aparece nas caixas de palitos de dentes. Sei que vocês a conhecem e agora me digam se não é linda. É ou não é? Para mim, lindíssima.
Ao que me consta, começou aparecer no produto em 1976. O nome Gina é uma homenagem a Rosa Del Nero, que tinha o apelido de Gina e era mãe de três irmãos empreendedores que lançaram essa marca de palitos de dentes no mercado. Mas não é Dona Rosa quem aparece na estampa.
Quem aparece ali é a Gina que eu admiro. Trata-se de uma modelo polonesa, Zofia Burk, que chegou ao Brasil em 1951 aos 5 anos de idade e desde os 16 anos trabalhou como modelo para diversas marcas e produtos. Desfeito o mistério?
Mas cá entre nós, parta finalizar, entre os sorrisos das duas Julies e Zofia, fico mesmo é com o de Gina. Para mim o mais belo dos três. E tem mais: Se tivesse eu que apostar no quesito beleza, apostaria duzentos palitos na mocinha polonesa.