Tem dias que parecem nunca acabar. São dias melancólicos e sem brilho. Quando acontece, fico até pensando se é o tempo, ou sou eu que estou nublada. Pois é, às vezes me sinto assim, com vontade de hibernar, mas nem fera sou mais, acalmei as vontades, guardei as garras e a raiva, nublei à espera da chuva suave que não vem para alegrar meu coração.
Dia nublado é como a incerteza, não ajuda. Uma espera sem esperança, quieta. É insosso como arroz sem sal. No sertão, em dia nublado, as nuvens passam altas e pesadas, levando a chuva para longe. Fica o abafado, como se faltasse ar para respirar. Nem o sol aparece direito para castigar como de costume. É dia triste de mal presságio. E se passar o carcará piando, o sertanejo se arrepia. Pensa logo nos parentes que estão longe, nos perigos da vida e da morte que podem estar rondando.
Mas se é um dia em que uma chuvinha cai mansa, com graça, alegra todo mundo, e se for dia 19 de março, dia de São José, é sinal de fartura o ano todo. O dia chuvoso é uma benção para quem planta, para as frutíferas e para a terra seca. Eu quando vejo um dia chuvoso tenho vontade de sair caminhando para me deliciar com os pingos molhando meu corpo devagarinho. Que prazer, que alegria.
Hoje, com o desequilíbrio ecológico, o dia nublado, em algumas regiões, traz chuvas fortes. Desastres que levam carros, casas e pessoas. Muita gente perde tudo e todos da família, uma tristeza. O dia chuvoso carrega o medo e a angústia.
Com tanta devastação, estamos nos destruindo em ritmo galopante. As notícias da TV e nas redes sociais mostram o horror da destruição, que cada ano cresce mais. Porém, poucas são as reflexões sobre as causas que levaram às mortes de tantas pessoas. Pouco falam no desmatamento, na poluição dos rios e mares, no consumo desenfreado de supérfluos e não degradáveis, que se acumulam e acabam com a natureza. Esquecem de que somos os verdadeiros responsáveis. Não podemos mais encarar como “desastres naturais”. São, sim, desastres provocados pelo homem de forma gananciosa e irresponsável.
Não se pode mais cantar, “chove chuva, chove sem parar”, como a música de Jorge Ben Jor, que embalava os corações apaixonados nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Nem assistir ao clássico “Dançando na Chuva” na cena de Gene Kelly. Os tempos são outros, nem todos se comovem com as catástrofes. Estão mais preocupados nos dias de chuva com os cabelos, com chapinhas, saltos plataformas e maquiagens que, se molhadas, não cairão tão bem nos stories das redes sociais. O look do dia chuvoso, pode ser real e sem graça. Ficam aflitas, parecendo até que o mundo vai acabar!
E está acabando mesmo. Essa conta chega para todos. Não temos mais tanto tempo. Vamos cuidar do que ainda nos resta. Precisamos urgentemente!