Certa vez, em Tambaú, o chuveiro elétrico de nosso banheiro queimou. Apesar de gostar de frio, chuva e neve, não sou dado a banhos frio...

Um banho de lembranças

saudade mae perda recordacao ternura
Certa vez, em Tambaú, o chuveiro elétrico de nosso banheiro queimou. Apesar de gostar de frio, chuva e neve, não sou dado a banhos frios, vá entender... O jeito foi usar o banheiro do quarto de papai, hoje a maior parte do tempo fechado, calado, passado…

Em dado momento, ao me ver dentro do box, comecei a me lembrar dos tempos de garoto, em que achava grande aquele banheiro, bem arrumado, a cara de nossa mãe. Olhei o teto, as paredes, as pequenas flores estampadas no azulejo decorado... uma viagem.

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Paulina Jachowska
Isso já faz algum tempo. Hoje, sete de fevereiro, dia em que ela refloresceu na Terra, há 94 anos, fui espiar o banheiro calado, fechado. Era nele, espaçoso, que eu costumava me sentar em um banquinho, atrás do espelho, para conversar com mamãe, sempre antes de dormir, olhando-a retirar a maquiagem do dia, com os cremes da noite. Em uma gaveta abaixo da bancada, dividida em 4 partes, ela guardava os utensílios de toalete, tudo muito organizado.

Quando ela partiu, visitar esses locais foi para mim uma dura lição cheia de saudades, mas sempre rica de ensinamentos. Ficava pensando em como tudo passa, como tudo aquilo passou... E sobre como os objetos pessoais, que tanto julgamos nossos, ficam para trás, para os outros, ou para ninguém.

Rememorei quantas vezes passei os olhos e as mãos por seus vestidos, que ficaram pendurados por um bom tempo no guarda-roupa. Pouco a pouco, foram perdendo o cheiro suave de seu perfume. Mesmo assim, eu os abraçava, sentia o rosto acariciado pelos tecidos, revivia o seu cheiro. E como dedilhei objetos nas gavetas, procurando me aconchegar em sua imagem pelo tato do carinho que sentia ao tocá-los. Quantas vezes vim neste banheiro, olhar para seus batons, suas escovas de cabelo, os estojinhos de cílios postiços, cremes e presilhas...

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Tyler Nix
Quando estava tomando banho em seu banheiro, mesmo tanto tempo depois, sentia como sua imagem é tão viva e nítida na minha memória. A água escorria pela minha cabeça, os olhos percorriam as florezinhas da parede, que me lembravam as do jardim que ela tanto cultivou, nas tardes de domingo...

Estava ali agora a vida passando, idem escoando, pelos ralos do tempo, inexorável. Tal como a água que descia pelo corpo, a caminho da rua, para de lá voltar aos rios. E mais tarde subir aos céus, virar nuvens, e desaguar pelas bênçãos de uma chuva, no jardim ali da frente, que um dia foi seu, como os vestidos e batons...

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