Ontem (29/01) foi aniversário de morte de Nam Paik . A arte lhe deve tributos. Este é um texto que deveria ser escrito em linguagem rec...

Tributo a Paik: A morte não é uma fraude

arte visual video nam paik
Ontem (29/01) foi aniversário de morte de Nam Paik. A arte lhe deve tributos. Este é um texto que deveria ser escrito em linguagem recheada de adjetivos e, quem sabe, até em letras garrafais, só para homenageá-lo.

Não se pode silenciar ou ser econômico diante de personagem de tamanha envergadura nas artes plásticas e visuais, como foi Nam Paik. Sempre muito polêmico, dominou estas artes com soberba e revolucionária criatividade.
nam paik
Nam June Paik ▪ 1932—2006
Morreu, em Miami, no dia 29 de janeiro de 2006, um domingo, aos 74 anos de idade.

No mundo inteiro, todas as mídias o reverenciaram em comentários superlativos às suas obras mais famosas. Noticiaram à exaustão o decesso desse artista considerado pai da VIDEOARTE. Uma referência maiúscula da arte eletrônica! Seus vídeos, filmes e instalações reúnem música, imagem e escultura e são frequentemente marcados pela irreverência.

E relembro aqui um trecho de uma de suas mais polêmicas entrevistas. Sempre se colocando em posição de vanguarda, Nam Paik afirmou a um jornal de seu país de origem, a Coréia do Sul, que “a arte é pura fraude. Você só precisa fazer algo que ninguém tenha feito antes”.

Mas, quando se trata de Nam Paik, o mais adequado é mesmo recorrer a imagens histriônicas e grandiloquentes, seja para homenageá-lo, seja para dizer que no instante final, na hora mais decisiva, o próprio autor de tão polêmica expressão não a soube fraudar.

Deixou-se tragar, ou foi tragado pelo inevitável, pelo real: a morte, que por anos o atormentou.

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Mit
Em razão da grandiosidade e exuberância de sua criação, o próprio Nam Paik precisava ter feito algo que ninguém fez até hoje: não morrer!

Não morrer, para não nos deixar órfãos de sua arte. Não morrer, até para nos deixar perceber que a morte, tão certa como dois e dois não são cinco, não pode, de fato, ser fraudada. Ou não pode ainda?

Artista maior, de sólida e multidisciplinar formação intelectual, Nam Paik, segundo o Le Monde, “se beneficiou de um reconhecimento mundial por ter questionado muito cedo o poder das imagens e as ter misturado ao som e ao movimento” e ficará imortalizado como precursor no uso do vídeo com fins artísticos e por suas opiniões diretas e contundentes sobre o mundo da arte.

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Tang Art
Salvo entre especialistas, a arte de Nam Paik é pouco difundida no Brasil e, menos ainda, entre nós paraibanos, creio. O grande público provavelmente não a conhece, ainda. Mas, precisa conhecê-la. Sua arte é simplesmente sensacional! Revolucionária! E só se debruçando sobre seus vídeos, instalações e produções de vanguarda para compreender e vibrar com o que ora se afirma.

Como um grande provocador de discussões sobre o uso da tecnologia televisiva e da relevância da televisão na arte, usou aparelhos de TV em construções para performances e desenhou instalações compostas por aparelhos de televisão transformados em “televisões-aquário”, “televisões-pirâmide”, “televisões-cadeira”, “televisões-robô”, “televisões-violoncelo”, dentre inúmeros outros.


E muitos de minha geração com certeza se lembram de “The More The Better” , a torre de 1003 monitores de TV que erigiu para os Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, e que questiona a orgia midiática.

Sua genial instalação “TV Buddha”, abrasileirada para o festival Video-Brasil 11, de 1996, virou “TV Preto Velho”. Do ponto de vista da arte, é algo simples e ao mesmo tempo fenomenal! E quem ainda não viu, deve ver o “buda gordinho”, sentado diante de um televisor igualmente pequeno e redondinho, contemplando a própria imagem em circuito fechado de televisão.


Insisto também em que não deixem de ver a “rã-poltrona” , de glúteos avantajados, curiosa diante do vídeo do aparelho de televisão, olhando nostálgica a paisagem que deveria ser seu habitat natural. E “Global Groove” (1973), de Nam Paik e Jonh Godfrey, que se pode ver na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, onde um bom acervo de videoarte internacional é disponibilizado ao público. Mediante agendamento, é claro!


Espero que se conserve lá por longo tempo, pois a arte de Nam Paik é eterna, de fácil compreensão e valor estético.

Como artista de tendência conceitual, Nam Paik soube como nenhum outro combinar a música e as artes visuais. Pioneiro no uso do vídeo como expressão artística, explorou a imagem eletrônica na criação de esculturas de vídeos, filmes, performances e instalações que alteraram definitivamente o panorama das artes plásticas,
NJP Center
comentou o Estadão (jornal O Estado de São Paulo).

Não sou, nem nunca fui, nem de longe, nenhum expert, ou crítico da arte de Nam June Paik. Tornei-me tão somente um vibrante admirador, a partir do dia em que, pelos ares do mundo, e como curioso e ainda na meia idade, vi em Paris mostras de seu trabalho em álbuns, livros e salões especializados. Virei fã! Quem não viraria?

Sempre irreverente no que dizia e fazia e, provavelmente, abatido em consequência de sequelas provocadas pelo derrame cerebral que o acometeu em 1996, afirmou em outra histórica entrevista à grande imprensa: “tornei-me, de certa forma, religioso, preciso de algo que me libere da miséria cotidiana”.

A morte que, no dia 29 de janeiro de 2006, fez estancar sua voz e sua criação, talvez tenha sido o caminho dessa liberação. Mas, o espírito provocador de sua obra, por certo, vagará entre nós por muito e muito tempo.

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