Ontem te vi partir
fechado como um livro
esquecido na estante
queria teu olhar
por mais alguns instantes
mas só vi indiferença qual espora.
Esperava que no livro
eu leria mil histórias
de amores, desamores
dissabores esperança
renúncia, belas conquistas
de teu passado memória...
Ainda tentei chamar
tua atenção pra mim
minhas saias rodadas
quase chegando ao chão
sapatilhas coloridas
nos meus pés em movimento
queria teu olhar
quiçá por alguns momentos
pra banhar todo meu corpo
que deixaste esquecido
qual boneca fria, inerte
coberta por seu vestido
colorido desbotado
com os botões descobertos
já bem gastos pelo tempo
Mas partiste intimorato
sequer olhaste de lado
preciso compreender
que tenho todo atestado
que o meu sonho de ontem
retrata nosso presente
Vi alguém se aproximando
em um carro na penumbra
te pegaram sem rodeios
deixando-me aturdida
naquela triste avenida
escura qual puro breu
Mas esquece, segue em frente
não tento mais entender
como fogueira tão grande
com labaredas a ferver
nossos líquidos de amores
prazeres pólens de flores
me cobrindo de prazer
apagou-se de repente
sem aviso, incoerente
dúbio louco mal querer
deixando cinzas somente.
Quando alguém fala de dor
de afeto e de desejo
de noites insones sem ar
de tardes frias e medo
Chegas com pressa e ofegante
descobrindo o amante
das cortinas enegrecidas
das cinzas, voltas à vida!
Tocas meu corpo com zelo
ou fúria e sofreguidão
deixas marcas em meu corpo
como desenhos no chão
Falas baixinho segredos
do Teseu no labirinto
bebi contigo o absinto
viajei por mares negros
pacíficos, com calmas ondas
Fui Ariadne querida
presa a ti, por fino fio
agora forte arrepio
percorre minha espinha
Fui o agave, a piña
bebi contigo a tequila
embriagada sorvi
teu desejo ao meio dia!
Também fui a bordadeira
do tapete inacabado
esperei-te a vida inteira
mas chegaste atrasado
Quando te sinto me ilumino
encontro-me, surjo das cinzas
Fênix leve se aproxima.
Novo encanto hoje me anima
Quando te sinto, sinto a presença
só nuvens claras, a quintessência
sou terra fértil pra receber-te
sou água doce pra tua sede
sou ar sou éter, pra te amar
fogo aceso te incendiar!
Quando te sinto
teu hálito doce
meus poros abrem
não há mais noite
só claro sol, inebriando
meu corpo aceso, em abandono...
Quando te sinto
sinto-me viva
pro meu banquete
hoje te espero como conviva!
fevereiro 24, 2023
Ontem te vi partir fechado como um livro esquecido na estante queria teu olhar por mais alguns instantes mas só vi indif...
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