Fosse "RESSURREIÇÃO - 101 sonetos de amor", de Carlos Newton Júnior, lançado numa época inflacionada pelas experimentações vanguardistas, certamente seria execrado pelos que se propunham à invenção a todo custo, Por quê? Simplesmente por se tratar de um livro que celebra o soneto, gênero poético posto em disponibilidade pelos modernistas, revitalizado pela Geração de 45 e, posteriormente, desprezado pelo concretismo e seus desdobramentos.
Estou aqui a me lembrar do quanto "A Rua dos Cataventos", livro de sonetos de Mário Quintana, suscitou conclusões imediatistas e preconceituosas a respeito do autor, inclusive a pecha de simbolista retardatário e a de epígono de Antonio Nobre, quando a mim me parece que o autor gaúcho foi o sonetista que o modernismo não teve. E isso em função dos seus sonetos primarem pela ironia e pelo humor, diferentemente da dicção sisuda, empolada, da maioria dos de 45.
"Ressurreição - 101 sonetos de amor", de Carlos Newton Júnior, mescla o apolíneo com o dionisíaco, revelando um autor que longe de se submeter passivamente ao espaço restrito e limitado dos dois quartetos e dos dois tercetos, domina - graças aos seus recursos estilísticos - este gênero poético em todas as suas dimensões e latitudes. E o domina por uma razão muito simples: com algumas exceções, o sonetista torna-se prisioneiro do soneto, deixa-se engessar, além de agir com sofreguidão para pôr termo à tarefa de concluí-lo sem mais delongas, assim como um pseudo jogador de futebol para quem a bola fosse um empecilho, uma excrescência, um corpo estranho do qual ele quisesse se ver livre o quanto antes. Carlos Newton Júnior, não! Não tem "a pressa que aniquila o verso". É um sonetista cheio de firulas, que esbanja habilidade, técnica, competência.
E mais: explora um veio temático negligenciado durante muito tempo pela lírica brasileira a partir do advento das vanguardas: o amor. Para tanto, lança mão dos poetas clássicos e contemporâneos, dos quais se abebera para realizar "eventuais e magníficas paráfrases", como bem o diz André Seffrin na orelha.
Em "Ressurreição" soneto e amor se complementam, um não pode viver sem o outro, assim como o eu-lírico tampouco pode viver sem ambos:
"O meu amor por ti eu exorcizo
no jogo do soneto. Se não escrevo
não sei como viver e não me atrevo
a contemplar nem mesmo o teu sorriso".
E escreve movido por uma necessidade vital, jamais pelo afã de obedecer aos ditames de breviários estéticos.
"Ressurreição - 101 sonetos de amor" é um lançamento da Editora Nova Fronteira. O posfácio - excelente - é do professor Peron Rios. Este é o sétimo livro de poesia de Carlos Newton Júnior, professor, ensaísta, crítico e "responsável pela coordenação editorial, fixação do texto e revisão final de toda a obra de Ariano Suassuna". É pernambucano da cidade do Recife.
⏤ Do livro O leitor de si mesmo, disponível na Arribaçã ⏤