Desde quando meu amigo Nathanael Alves passou para o mundo desconhecido, há mais de quatro décadas, tenho me valido de nossas conver...

O anjo da guarda

Desde quando meu amigo Nathanael Alves passou para o mundo desconhecido, há mais de quatro décadas, tenho me valido de nossas conversas e das imagens que guardo dele quando me recolhia ao aconchego de sua biblioteca. Foi ele quem me ofereceu alguns livros de formação, mesmo que não tenha lido os mais conhecidos.

Dificilmente um escritor em seus primeiros passos não careça de um aconselhador, alguém que possa lhe falar de arte, colocar os melhores livros nas mãos.
Tonio
Enfim, tirar suas dúvidas quando a paisagem das artes parece incompreensiva ou quando o texto parece truncado.

Também foi assim com Gonzaga Rodrigues que, chegando de Alagoa Nova com uns poemas no bolso e a vontade imensa de conquistar a cidade com sua poesia, conheceu Geraldo Sobral, que passou a orientá-lo sobre os caminhos para chegar à boa literatura. Se Sobral tirou a poesia de Gonzaga, a crônica o encantou, mesmo que ele desejasse o romance como ponto central de sua literatura.

Sempre foi assim desde os tempos de Platão, de Aristóteles, de Sêneca, de Paulo de Tarso, de Agostinho até chegar aos tempos atuais. Sempre precisamos de um orientador para apontar os caminhos menos tortuosos para nos aproximar do livro.

Lembro que os dois a quem faço referência, Nathanael e Gonzaga, faziam parte da “igrejinha” que povoou a melhor fase do Jornalismo da Paraíba, no meu entender, que foi entre as décadas de 1960 a 1980, quando ambos, juntamente com uns poucos, davam prumo a qualquer jornal onde estivessem. Um sempre passava a bola para o outro quando encontrava um lugar melhor para trabalhar.

Tonio
É lógico que vieram outros nomes em décadas seguintes, filhos adotivos deste grupo o qual também integravam, entre outros, Luís Augusto Crispim, Evandro Nóbrega, Martinho Moreira Franco, José Souto, Genésio de Sousa, João Manoel de Carvalho, Teócrito Leal e Jurandir Moura.

“Devo a Geraldo Sobral muito de minha formação”, afirmou Gonzaga, porque aqui chegando, em 1951, “não era nada em jornal, simples agregado, descolando um cigarro aqui, um biscate da revisão noutro dia, aguardando que surtisse efeito o bilhete trazido de Alagoa Nova”. Sobral indicava livros e apontava caminhos, de modo que ajudou a florir em Gonzaga a suntuosidade da crônica. A leveza da escrita mesmo quando aborda o tema mais difícil.

Gonzaga é o escritor das crônicas. Ele buscou na crônica a perfeição da narrativa, por isso trata a crônica como obra literária. Nos escritos dele, mais do que em outros escritores paraibanos, o homem e a paisagem se misturam. São personagens do mesmo enredo e da mesma matéria. O homem da bagaceira do engenho Vitória é o mesmo que ganhou os espaços dos jornais, conquistou o mundo da crônica, o mundo das letras.

Gonzaga Rodrigues Antônio David Diniz (estilizada por DGArt)
Quando lemos suas crônicas, sobretudo se dedicadas a temas rurais, parece que encontramos o espírito em repouso nas paisagens verdes do Brejo, porque sentimos o aroma dos riachos e dos canaviais em cada página escrita.

Não foi diferente comigo e Nathanael. A sua biblioteca sempre esteve aberta para mim. Ele ultrapassou as fronteiras da bondade e da benevolência, que depois descobri, tudo em retribuição da amizade de meus tios e avós para com sua família, desde quando residiam no sítio Areial, em Arara.

Mesmo que com o tempo a “igrejinha” tenha se desmontado, este grupo de amigos sempre se encontrava para um café no terraço de algum, de modo a manter sólida a afeição de um pelo outro, como extensão da redação. Conheci e me aproximei de muitos deles, escutava as conversas dessa patota, aprendi com eles como deve ser a camaradagem das redações.

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