CAMINHAVA-SE
e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) Retiniam nos bolsos os cristais, as balas, o despreparo de ser na miséria. Caminhava-se perdidamente, às cegas, tonto de saber-se tonto, de saber-se.
e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) Retiniam nos bolsos os cristais, as balas, o despreparo de ser na miséria. Caminhava-se perdidamente, às cegas, tonto de saber-se tonto, de saber-se.
NOSTALGIA
Me guarde em você. Quero ser seu rabo inútil ou sua sombra dispersa na metade dos dias. Não me recuso a nada, nem que me exploda em Mundo, e partido, fragmento andejo, me esparrame entre seus sonhos. Me guarde em você, assim como a surpresa ou um bocejar de tédio. Me guarde, me recrie no anonimato de sua pueril soberba. Me guarde, simples assim, como um resíduo de pele morta que se agarra à vida ou um som tardio, mínimo.
Me guarde em você. Quero ser seu rabo inútil ou sua sombra dispersa na metade dos dias. Não me recuso a nada, nem que me exploda em Mundo, e partido, fragmento andejo, me esparrame entre seus sonhos. Me guarde em você, assim como a surpresa ou um bocejar de tédio. Me guarde, me recrie no anonimato de sua pueril soberba. Me guarde, simples assim, como um resíduo de pele morta que se agarra à vida ou um som tardio, mínimo.
MADEIXAS DAS SOMBRAS
O Eu apagado, descrente, o crucifixo do outro e toda nudez do medo. Meu martírio: esta fogueira que não vesti. Se restam fagulhas, são versos roubados, pés trocados de outros passos, no silêncio das cinzas.
O Eu apagado, descrente, o crucifixo do outro e toda nudez do medo. Meu martírio: esta fogueira que não vesti. Se restam fagulhas, são versos roubados, pés trocados de outros passos, no silêncio das cinzas.
RÉQUIEM
O voo das caixas pretas, o violoncelo e algo de tenebroso, névoa da porção alucinada da besta que graceja com minha boca faminta.
O voo das caixas pretas, o violoncelo e algo de tenebroso, névoa da porção alucinada da besta que graceja com minha boca faminta.
PAI BANCÁRIO
Desfia o terço de prata e se agarra ao deus binário ̶ é esse o nosso contemporâneo. Mas a possibilidade do espelho é a farsa do único rosto e um número múltiplo retido para balanço.
Desfia o terço de prata e se agarra ao deus binário ̶ é esse o nosso contemporâneo. Mas a possibilidade do espelho é a farsa do único rosto e um número múltiplo retido para balanço.
MINÚCIAS
Ah, as minúcias, o quanto lutamos para herdá-las... Colocá-las sob nossas asas, dar-lhes nome, dar-lhes de comer, ser delas o segredo que viceja na inutilidade do resplandecer. Ah, as minúcias, pesadelo dos gládios nesse porão de ossos.
Ah, as minúcias, o quanto lutamos para herdá-las... Colocá-las sob nossas asas, dar-lhes nome, dar-lhes de comer, ser delas o segredo que viceja na inutilidade do resplandecer. Ah, as minúcias, pesadelo dos gládios nesse porão de ossos.
SIMUM
Sopro da boca, deságua sua saliva e palavras brutas que necessito desumanizar-me. Se achegue úmido aos frangalhos que se arrastam nos altiplanos sem carne, pois é mais seco meu nome que as dunas que fervilham no deserto. A altivez de sua força é o nada que retorna ao poço fundo de um oásis sem causa – de um escombro sem data E o calor é o menor dano que posso causar aos que te aguardam do lado de lá, nas estufas do Paraíso.
Sopro da boca, deságua sua saliva e palavras brutas que necessito desumanizar-me. Se achegue úmido aos frangalhos que se arrastam nos altiplanos sem carne, pois é mais seco meu nome que as dunas que fervilham no deserto. A altivez de sua força é o nada que retorna ao poço fundo de um oásis sem causa – de um escombro sem data E o calor é o menor dano que posso causar aos que te aguardam do lado de lá, nas estufas do Paraíso.
(do livro XXI Sombras, em fase de edição)