Me sinto tão Dona Maria aquela que crê no dia seguinte e sonha com a eternidade Conta da vida o canto de amor aos...

Fazer horta para ter sopa quente

poesia paulistana cristina siqueira tatui
 
 
 
Me sinto tão Dona Maria
aquela que crê no dia seguinte e sonha com a eternidade Conta da vida o canto de amor aos filhos Multiplicados em netos Sinto enjoos matinais Gestando os novos tempos Pode ser Um tempo abençoado Quero crer ! Será longo o tempo deste trajeto de imprevisível fim Falar o quê? São tantos discursos contrários em nome a tantos nomes Em nome de um deus que está em recesso observando o que fazemos do lado de cá Um erro que perdura O Deus que cria Não é o que destrói E quem se importa? No salve-se quem puder
Maricotices
Enfrentar a vida com coragem, Graça e dignidade Não fugir dos desafios e não gritar se ver um saruê Um par de morcegos ou uma lagartixa rondando perto de mim Eu, que não mato barata e nem formiga Eu que sou da Paz e vivi guerras Para encontrar um caminho parto do princípio de que não sei nada E sempre tem novidade Sou curiosa contemplativa E, ouso ... Creio ter nascido Ópera de Rock n’ roll Enfrentar meus medos é meu ato de coragem Preciso espaço para respirar e poder ser distraída Exercito o bom humor Para ser digna na dor Alegria para mim é coisa séria E quando estou triste Peço férias (de mim) Sempre gostei das maricotices essenciais Oferecer uma comida gostosa Preparada com gosto Arrumar a cama com lençóis perfumados Conversar e rir entre amigas me embebedar de chá para ter lugar para o vinho beliscar comidinhas miúdas servir delicadezas Ser de superfície nos cuidados Com a pele, o corpo, os cabelos me salvo pela vaidade que quer beleza, saúde, energia E não necessariamente perfeição Já tive por dieta pó de giz quando lecionava em escolas rurais e, por ser inexperiente, a princípio Coloquei leveza no currículo e ensinei meninos e meninas a tricotar Para tecer seus agasalhos de frio Fazer horta para ter sopa quente E assim ... Conquistava assiduidade e o coração da pequena comunidade Gente simples Alfabetização sob a frondosa mangueira Carteiras de duplas Todas as séries em sala única Pipoca no lugar de pão Ovo frito na banha de porco Carne guardada no pote de gordura Pão de torresmo Café fraco Biju Economia para mim era equilibrar o orçamento e para as minhas meninas andarem bem vestidas Contratei a costureira Teresa que confeccionava Os modelos que eu criava tudo muito bem feito e delicado Nunca me atrevi a costurar mas tive escola de Nanci e Dona Guiomar Ambas, minha cunhada e minha sogra eram exímias bordadeiras, costureira, Mãos de fadas Enxoval dos meus filhos todo em cambraia pele de ovo bordado a mão Vestidinhos com casinha de abelha Casaquinhos de crochê e de tricô Durante onze anos fui Amélia de forno, fraldas e fogão Capricho no caderno de receitas Muitas vezes fui contra a minha natureza eu era a patroa submissa às ordens do Patrão Faz tanto tempo este tempo Era um outro tempo Quase outra encarnação Os filhos pequenos Mobília comprada a prestação Nas horas vagas estudo E os livros policiais de minha comadre Gmarly na cabeceira da cama Lia sem parar e quando escrevia me diziam que era Psicografia Hoje entendo este processo de muitos “eus “ saindo de dentro de mim Todos vivos e vibrantes Escrita veloz, intensa sempre em transe A consciência expandida a mil mas, por anos escrevi em segredo Guardava na alma um enredo que não me deixava sorrir Nesta vida custei a acordar Vivi meu tempo de mamãe Ursa Polar Misturei o tempo Mas não importa só queria registrar esta nota dos fragmentos da vida que hoje parecem mentira Novela de ficção.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também