Do ponto de vista de uma fervorosa admiração, José Nunes acrescentou à série histórica NOMES DO SÉCULO, de A União, a figura exponencial de Ariano Suassuna. Um nome que não se restringirá apenas a este século, da mesma forma que a referência de paraibanidade há muito tempo já não comporta os seus limites de cidadania.
Apoiado na reportagem ou na entrevista, o jornalista vai descobrindo, no esboço do perfil ou no delineamento biográfico, outra vertente para sua vocação. Possivelmente uma forma de interesse e de expressão em que a marca do precário não se imponha com a mesma voracidade que espreita o fato jornalístico.
O processo de composição é o mesmo que resultou na publicação de Dom Marcelo, o bispo da solidariedade. A pesquisa e reunião de textos divulgados pela imprensa, redimensionados não apenas por uma nova ordem, mas sobretudo pela ótica que preside a organização.
Não existe biógrafo sem paixão pela vida ou personalidade que elegeu para compreender e revelar. Quase sempre, mais que isso. Para fixar, perpetuar, conforme a força do traço desvelador.
José Nunes não foge a esta tradição. No texto dedicado a Dom Marcelo, é transparente a motivação que serve de suporte ao seu trabalho. A convicção religiosa do jornalista vai ao encontro da vida e obra de seu líder espiritual para consagrá-lo e também consagrar-se, em nome da mesma fé.
Agora, em relação ao grande teatrólogo e romancista, verifica-se outra forma de adesão. São os temas, as formas, a visão de mundo de Ariano Suassuna que Nunes procura absorver e refletir em sua linguagem. Ritmos da poesia popular, títulos que remetem aos folhetos de feira, escolhas semânticas em consonância com as fontes e com a obra genial do criador do teatro do Nordeste. O resultado é um texto leve, descontraído, bem humorado. Um texto que atinge o objetivo essencial de envolver o leitor.
Tudo flui como o desenrolar de uma longa conversa com Ariano Suassuna, circunstância que por si só garante o encantamento. Uma espécie de Ariano por ele mesmo, lembrando a conhecida coleção editada pelos franceses.
No entusiasmo do texto de José Nunes, reencontro minha própria emoção ao conhecer o criador do Auto da Compadecida. A obra-prima levava-me a imaginá-lo um ser inatingível. Mas lá estava Ariano, no Departamento de Extensão Cultural da UFPE, naturalmente simples, verdadeiramente atencioso, tratando a estudante desconhecida, como se estivesse recebendo uma personalidade. Era o início da década 70.
Conversamos demoradamente sobre o Dom Quixote e sobre a lírica de Camões. Recitamos sonetos. Depois é que vieram os subsídios para o trabalho de comparação que eu pretendia: Gil Vicente e Ariano Suassuna - acima das profissões e dos vãos disfarces dos homens.
O fato de encontrá-lo referido na cronologia organizada por José Nunes atualiza todas estas lembranças.
Existem personalidades que dão o tom maior, quando participam de um projeto ou de uma instituição. Nomes que valorizam a iniciativa, em vez de ser valorizados. Engrandecem o projeto ou a instituição, em vez de ser engrandecidos.
Assim é o teatrólogo, romancista e poeta Ariano Suassuna, incluído na série histórica NOMES DO SÉCULO e tomando posse na Academia Paraibana de Letras. Uma deferência à terra que o viu nascer e ficar maior do que ela. Uma deferência às instituições culturais da Paraíba.