A fila era de não acreditar de grande. Quilômetros! E lenta. Mas a vontade de luz era maior do que o brilho do Sol que esquentava a igu...

Amor e mediunidade

espiritismo chico xavier psicografia mediunidade
A fila era de não acreditar de grande. Quilômetros! E lenta. Mas a vontade de luz era maior do que o brilho do Sol que esquentava a igualmente longa espera.

Vinham de uma experiência terrível, ocorrida há pouco. O segundo filho, o do meio, de apenas dois anos, havia se afogado acidentalmente na piscina. Por algum rápido descuido, os motivos permaneceram ignorados. Ninguém sabia como, nem porque aquela tragédia aconteceu de maneira tão gratuita e banal.

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Krystian Tambur
A dor dos pais em uma situação desta é imponderável, inimaginável. A precocidade, a inexistência de quaisquer vestígios de razoabilidade, acrescentam-se e agravam angústia e desolação perante a absurda fatalidade. As interrogações só aumentavam. Como aconteceu? Como ninguém viu? Nada se fazia explicável, racional.

Foram justamente as dúvidas e a falta de respostas às infindáveis indagações, levadas aos limites da exaustão, que lhes dispuseram a enfrentar aquela fila quilométrica, repleta de gente em busca de conforto e elucidação. Era a multidão que diariamente se estendia à esperança de poder estar com Chico Xavier, um dos grandes fenômenos mediúnicos da história.

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Chico Xavier homenageado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro com título de cidadão carioca (1972)
Antônio Nery/ALRJ
Inconcebível desconfiar de alguém que publica quase 500 livros, sem ter concluído nem o curso ginasial, vende mais de 60 milhões de cópias, o que constitui um fato no mínimo intrigante. Principalmente tendo o conteúdo de sua obra sido investigado por associações médicas, grupos de estudos científicos, com vereditos publicados em artigos de revistas como Pubmed e Neuroendocrinology Letters. Acerca da parte atribuída ao Espírito André Luiz, que contém conhecimentos específicos de fisiologia da glândula pineal, que “só puderam ser confirmadas cientificamente cerca de 60 anos após a publicação”, não restou dúvida sobre a fenomenal paranormalidade de Chico.

Entretanto, o mais louvável de toda sua produção intelectual é o destino que ele deu ao lucro editorial obtido com as vendas. Todos doados a instituições filantrópicas e à Federação Espírita Brasileira, sem amealhar um só centavo para si! Doar a renda não é nada quando se compara com doar a vida inteira ao bem do próximo, ao diuturno e incansável atendimento fraterno, às dezenas de milhares de cartas e comunicações destinadas a pessoas carentes de informações de amigos e familiares que já haviam retornado ao mundo espiritual. Mundo com que Chico se afinou desde que se entendeu de gente, nas alentadoras conversas no quintal de casa, com o espírito da mãe, e mais tarde com seus guias e mentores.

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Chico Xavier em sua casa de Uberaba (1987)
@amigosdechicoxavier
A virtude da simplicidade aliou-se a tantas outras que atestam o nível de evolução espiritual do grande médium. Os que gozaram da oportunidade de conhecer um pouco mais de sua intimidade, confessaram uma enorme surpresa ao ver os ambientes da casa, sobretudo seu quarto. “É nesta cama que ele dorme?” — perguntavam invariavelmente a quem os acompanhava.

Voltando à fila das centenas de pessoas que vagarosamente aguardavam ser atendidas por Chico, o casal, pai do garotinho afogado, começou a naturalmente conversar com os presentes. De repente, o trauma da terrível e prematura perda, que tanto sofrimento lhes trazia, ficou pequeno ao ser cotejado com os vários dramas ali relatados. Ficavam impressionados com os fatos que ouviam de outros pais, irmãos, amigos que ali se punham quase desesperançosos.

Quase, sim, pois se não houvesse uma réstia de esperança, não se disporiam a tão longa espera, vindos de várias partes do país para a pequena Uberaba, no interior de Minas Gerais. A fama do consolo obtido por muitos que conseguiram ser ouvidos por Chico já era internacional. E ninguém que chegou perto dele havia se arrependido ou se frustrado no que buscou. A cada tempo, fortaleciam-se as impressões que as conversas mediúnicas causavam. Chico repassava, em incrível transe psíquico, as mais comoventes revelações. Dados e informações sobre os estimados ausentes do mundo carnal eram flagrantemente incontestáveis. Só quem recebeu acredita e sabe exatamente o que significou.

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Chico no ato de psicografia @amigosdechicoxavier
Chegada a vez dos pais aqui mencionados, o impacto emocional deu-se logo na entrada. Ao redor da grande sala, onde havia uma mesa de uns doze lugares no centro, acomodaram-se dezenas de pessoas, no mais absoluto silêncio. Assim eram de praxe introduzidas todos os que estavam na fila. Em grupos limitados ao espaço da sala. Chico se sentava na cabeceira.

Os que presenciaram esta cena, invariavelmente dizem que quando ele entrava, uma verdadeira catarse era sentida com as boas energias que emanavam do ambiente e se estendia a tudo e todos. Uma indescritível sensação de paz, conforto interior, embevecimento e transcendência.

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@fotoschicoxavier
Após a prece, Chico baixava a cabeça, punha a mão no rosto, cobria os olhos, e começava a escrever freneticamente, sem parar, nas folhas de papel que ficavam em uma pilha ao seu lado, sendo substituídas pelos auxiliares, uma após outra. Segundo o casal que nos narrou esta história, o silêncio era realmente total. Nem uma respiração sequer se ouvia. Todos absolutamente compenetrados.

Evidentemente Chico não conhecia ninguém dos que ali estavam. Depois de horas escrevendo, sem interrupção, ele enfim parava. O suspiro de relaxamento encerrava o transe evidenciando que ele saía do desdobramento e voltava ao “normal”.

Em seguida dava-se a leitura das cartas dirigidas a cada pessoa que serenamente escutava. Até se chocar com a riqueza de detalhes, de fatos, nomes e situações descritas, que envolviam o motivo pelo qual se dirigiram até lá. As surpresas que se sucediam à leitura misturavam-se à alegria com inenarrável emoção, experimentada diante da lógica, da clareza e da realidade em que se contextualizavam. Não havia como duvidar. Era fenomenal.

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@fotoschicoxavier
Então chegou a hora da mensagem do garotinho vítima do afogamento. Tudo esclarecido! Ele afinal contou que sentiu sede, e, atraído pela abundância luminosa refletida na superfície da água, caminhou até a borda, quando caiu na piscina, sem ninguém perceber. Esclareceu que sua breve encarnação estava prevista como necessidade cármica dos pais, e que por mais curta que houvesse sido, valeu cada dia, marcada pela intensidade do amor experimentado entre ele e os pais. Amor que permanecia com a força do elo que nunca deixou de uni-los.

A carta desabou nos pais como um bálsamo de imensurável e reconfortante felicidade. Era tudo o que eles queriam ouvir para confirmar suas crenças espíritas e a fé que nutriam por aquela alma de nível tão superior como Chico Xavier.

Depois desta oportunidade, outras vieram. Em uma delas, aconteceu a chance de uma presença mais próxima de Chico, sobre a qual relataram nunca ter sentido algo igual emanar de uma pessoa. Apenas a proximidade física envolvia um magnetismo tão potente que já compensava qualquer esforço para olhar, estar perto daquela fonte de luz encarnada.

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Renato, segundo filho de Iraê Lucena e Laerte Nóbrega (desenlace em 1987) @irae.lucena
Nestas ocasiões posteriores, receberam mais duas cartas do filho, pela psicografia de Chico. Em uma delas, houve um fato bem curioso. No corredor do apartamento onde morava o casal, havia fotos dos três irmãos, ladeadas. Ele, o do meio, já ausente, usava uma cabeleira redonda, meio de índio, que a mãe sempre achou linda E costumava perguntar, vez por outra: “como deverá estar este cabelinho hoje em dia?”... Como espírita, de fortes convicções herdadas da mãe, ela sabia que os espíritos adotam aparência que desejam, quando estão do lado de lá, e assim aparecem nos sonhos, nas comunicações mediúnicas. Pois bem, em uma das cartas ele dá novo recado, que a estupefaz: “Mãe, ainda uso o mesmo corte de cabelo que você gosta e me pergunta: o da foto do corredor”. Que alegria!

A mãe é Iraê Lucena, o pai, Laerte Nóbrega. De quem tivemos a honra de escutar tão louvável narrativa, contada à luz de um belo luar nas encostas da Praia de Carapibus, no litoral sul paraibano, num recente e prazeroso encontro. Seria egoísta e impossível guardar apenas para nós uma história tão bela e iluminada.

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Laerte Nóbrega e Iraê Lucena
Iraê continuou o seu trabalho como parlamentar paraibana, exerceu 4 mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa, sempre pautados com projetos em defesa da mulher, da diversidade, inspirada nos valores que dignificam a vida além do que é meramente mundano. Até hoje, mesmo afastada da política efetiva, ela tem buscado dar sua contribuição neste mesmo sentido. Laerte, seu grande companheiro de quase cinquenta anos, ex-auditor da Controladoria Geral da União, também permanece ativo, com sua boa experiência, em contribuições profissionais voluntárias. Mas sem deixar de fazer jus ao carinhoso apelido que lhe demos: “O ermitão do Atlântico”. Cujas paisagens lhe fortalecem a Fé que, como ensina Allan Kardec, “só é inabalável quando pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”. Decerto, perante a deslumbrante visão oceânica, Laerte e Iraê também enxergam, com a devida gratidão, as sublimes vias de comunicação que se perpetuam nas imagens da Criação. Basta ter olhos para ver, coração para sentir e intuição para entender.

Incluindo a inesquecível imagem de uma encantadora figura, humana e sobre humana, que até hoje honra e consolida uma das grandes revelações que o mundo já teve o privilégio de vir a conhecer: a mediunidade!

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