A fila era de não acreditar de grande. Quilômetros! E lenta. Mas a vontade de luz era maior do que o brilho do Sol que esquentava a igualmente longa espera.
Vinham de uma experiência terrível, ocorrida há pouco. O segundo filho, o do meio, de apenas dois anos, havia se afogado acidentalmente na piscina. Por algum rápido descuido, os motivos permaneceram ignorados. Ninguém sabia como, nem porque aquela tragédia aconteceu de maneira tão gratuita e banal.
Vinham de uma experiência terrível, ocorrida há pouco. O segundo filho, o do meio, de apenas dois anos, havia se afogado acidentalmente na piscina. Por algum rápido descuido, os motivos permaneceram ignorados. Ninguém sabia como, nem porque aquela tragédia aconteceu de maneira tão gratuita e banal.
Krystian Tambur
Foram justamente as dúvidas e a falta de respostas às infindáveis indagações, levadas aos limites da exaustão, que lhes dispuseram a enfrentar aquela fila quilométrica, repleta de gente em busca de conforto e elucidação. Era a multidão que diariamente se estendia à esperança de poder estar com Chico Xavier, um dos grandes fenômenos mediúnicos da história.
Chico Xavier homenageado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro com título de cidadão carioca (1972)
Antônio Nery/ALRJ
Antônio Nery/ALRJ
Entretanto, o mais louvável de toda sua produção intelectual é o destino que ele deu ao lucro editorial obtido com as vendas. Todos doados a instituições filantrópicas e à Federação Espírita Brasileira, sem amealhar um só centavo para si! Doar a renda não é nada quando se compara com doar a vida inteira ao bem do próximo, ao diuturno e incansável atendimento fraterno, às dezenas de milhares de cartas e comunicações destinadas a pessoas carentes de informações de amigos e familiares que já haviam retornado ao mundo espiritual. Mundo com que Chico se afinou desde que se entendeu de gente, nas alentadoras conversas no quintal de casa, com o espírito da mãe, e mais tarde com seus guias e mentores.
Chico Xavier em sua casa de Uberaba (1987)
@amigosdechicoxavier
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Voltando à fila das centenas de pessoas que vagarosamente aguardavam ser atendidas por Chico, o casal, pai do garotinho afogado, começou a naturalmente conversar com os presentes. De repente, o trauma da terrível e prematura perda, que tanto sofrimento lhes trazia, ficou pequeno ao ser cotejado com os vários dramas ali relatados. Ficavam impressionados com os fatos que ouviam de outros pais, irmãos, amigos que ali se punham quase desesperançosos.
Quase, sim, pois se não houvesse uma réstia de esperança, não se disporiam a tão longa espera, vindos de várias partes do país para a pequena Uberaba, no interior de Minas Gerais. A fama do consolo obtido por muitos que conseguiram ser ouvidos por Chico já era internacional. E ninguém que chegou perto dele havia se arrependido ou se frustrado no que buscou. A cada tempo, fortaleciam-se as impressões que as conversas mediúnicas causavam. Chico repassava, em incrível transe psíquico, as mais comoventes revelações. Dados e informações sobre os estimados ausentes do mundo carnal eram flagrantemente incontestáveis. Só quem recebeu acredita e sabe exatamente o que significou.
Chico no ato de psicografia @amigosdechicoxavier
Os que presenciaram esta cena, invariavelmente dizem que quando ele entrava, uma verdadeira catarse era sentida com as boas energias que emanavam do ambiente e se estendia a tudo e todos. Uma indescritível sensação de paz, conforto interior, embevecimento e transcendência.
@fotoschicoxavier
Evidentemente Chico não conhecia ninguém dos que ali estavam. Depois de horas escrevendo, sem interrupção, ele enfim parava. O suspiro de relaxamento encerrava o transe evidenciando que ele saía do desdobramento e voltava ao “normal”.
Em seguida dava-se a leitura das cartas dirigidas a cada pessoa que serenamente escutava. Até se chocar com a riqueza de detalhes, de fatos, nomes e situações descritas, que envolviam o motivo pelo qual se dirigiram até lá. As surpresas que se sucediam à leitura misturavam-se à alegria com inenarrável emoção, experimentada diante da lógica, da clareza e da realidade em que se contextualizavam. Não havia como duvidar. Era fenomenal.
@fotoschicoxavier
A carta desabou nos pais como um bálsamo de imensurável e reconfortante felicidade. Era tudo o que eles queriam ouvir para confirmar suas crenças espíritas e a fé que nutriam por aquela alma de nível tão superior como Chico Xavier.
Depois desta oportunidade, outras vieram. Em uma delas, aconteceu a chance de uma presença mais próxima de Chico, sobre a qual relataram nunca ter sentido algo igual emanar de uma pessoa. Apenas a proximidade física envolvia um magnetismo tão potente que já compensava qualquer esforço para olhar, estar perto daquela fonte de luz encarnada.
Renato, segundo filho de Iraê Lucena e Laerte Nóbrega (desenlace em 1987) @irae.lucena
A mãe é Iraê Lucena, o pai, Laerte Nóbrega. De quem tivemos a honra de escutar tão louvável narrativa, contada à luz de um belo luar nas encostas da Praia de Carapibus, no litoral sul paraibano, num recente e prazeroso encontro. Seria egoísta e impossível guardar apenas para nós uma história tão bela e iluminada.
Laerte Nóbrega e Iraê Lucena
Incluindo a inesquecível imagem de uma encantadora figura, humana e sobre humana, que até hoje honra e consolida uma das grandes revelações que o mundo já teve o privilégio de vir a conhecer: a mediunidade!