Já era tarde muito tarde, eu estava cansado e confuso com o ocorrido e não esperava por aquilo. Aliás não esperava que nada viesse à t...

A vida em perspectiva

Já era tarde muito tarde, eu estava cansado e confuso com o ocorrido e não esperava por aquilo. Aliás não esperava que nada viesse à tona com tanta relevância. Mas não quero lembrar, se possível nunca mais.

Fomos ao cinema e a noite parecia ser promissora. O filme era suficientemente bom para depois resultar em uma conversa daquelas, uma puxa a outra, e nós precisávamos daquilo. Algo vinha incomodando, uma perda de foco? Um preferir estar só? Um mergulhar mais profundo em mim mesmo?

Luisella Leoni
Não era aquela solidão dramática, abastecida em dúvidas, angústias ou dores. Estar só por uns tempos, era o que eu imaginava aparentemente perceber nela também. Mas nela eu percebia de forma mais intensa. Nem mesmo o receio de estar só havia. Também não parecia haver nela buscas por nada mais interessante, mas o que estava ocorrendo não era o suficiente, ou arrebatador, ou que fosse convincente de estar vivendo a coisa certa, no momento certo.

Eu por vezes pensava em viajar, às vezes estava certo que era uma boa opção. Para São Paulo? Para Londres? Havia o show do Hyde Park, talvez a última turnê, talvez, mas faltava o impulso motivador, suficientemente forte como houve tantas outras vezes, sem dúvidas, com certezas promotoras de felicidade. E era o que ocorria, o que sempre ocorria, embora talvez na última, a chama em retrospectiva, tenha sido menos intensa. Havia uma certa palidez em estar lá, discreta, mas havia.

Procurei companhia. Queria andar pelas ruas, me perder nelas, entrar em um bar e me aventurar no não provado, enriquecendo o paladar. Mas a intensidade destes momentos hoje também em retrospectiva, não tinha o mesmo fôlego. Aquela pitada de sal, uma mera suspeita? Não, não era, era perceptível que não.

paulohabreuf
O que estava mudando? Eu não sabia, pelo menos por enquanto ainda não, mas minhas percepções não eram as mesmas e elas vão ficando menos nebulosas. Em perspectiva, elas costumam quase sempre dizer algo, invariavelmente, que reflete alguma coisa como uma despedida, uma mudança ou o fim de um ciclo como se diz atualmente.

E eu não lembro de nenhum caso ou de ninguém que tenha se equivocado em avaliar algo ou a vida em perspectiva.

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