Chegou com algumas ferramentas. Em roupas desgastadas, se aproximou de um canteiro da praça: iniciou a labuta. As flores sorridentes pelo trato. As plantas dançando na chuva dos respingos do aguador. Manhã de sol, gente observando a atitude do jardineiro. Seria algum funcionário da prefeitura local?
Passantes nem se apercebiam dele, sequer olhavam o bailado das árvores, gramados verdes, vida ofertada. Iam, cada qual esquecido de si mesmo, alheios à beleza da natureza gratuita. Um amigo meu foi se achegando. Ficou admirado com o trabalho humanitário e de extrema dedicação do jardineiro desconhecido. Um homem idoso que se tornava criança, enquanto tratava o canteiro exuberante. Assoviava, sorria, conversava com os habitantes daquele local tão bonito do logradouro.
Passou uma hora em deleite, convivendo e tocando nas pétalas e folhas. Meu amigo não resistiu. Aproximando-se do jardineiro perguntou (observando a idade dele) se não estaria em tempo de aposentar-se. O homem parou o trabalho, voltou-se para o curioso e deu uma gargalhada. Não era jardineiro. Era médico.
“Médico?!” – admirou-se o amigo. “Por que não? Ainda tenho a minha clínica, nas horas vagas cuido dos jardins. Trato pessoas e vegetais, ambos pertencem, igualmente a nós, ao Universo e somos criaturas de Deus.”
Encabulado o turista brasileiro saiu de mansinho. Para ele, uma exceção. Como alguém bem aquinhoado, médico, rico, se dava aos cuidados para com canteiros de praça?! Foi na Holanda, há alguns anos. Tal testemunho é exaltado louvor e hino erguido a nossos irmãos e irmãs do reino vegetal. Um procedimento ecológico de valor inestimável.
Quando estivemos em Viña del Mar, Chile, o que me chamou a atenção e de minha mulher Emília foram os jardins suspensos em postes elétricos, ou rasteiros. Ninguém molestava as flores lindas vicejantes. Cuidado extremo pela decoração natural a ornar a linda cidade chilena, erguida à beira do Pacífico.