Nunca mais falarei com tal franqueza sobre fatos que possam me indispor com alguém ou evocar momentos que deveriam estar apenas comigo, não necessariamente que me digam respeito ou que tenha participado, mas que presenciei e que de uma certa forma me surpreenderam.
É uma forma de me poupar e de evitar divulgar questões que apesar de surpreendentes abalariam conceitos de pessoas consideradas digamos, integras ou acima de suspeitas ou de ambiguidades. Que o silêncio exerça sua função e preserve atitudes desconcertantes para um indivíduo ou um grupo.
É uma forma de me poupar e de evitar divulgar questões que apesar de surpreendentes abalariam conceitos de pessoas consideradas digamos, integras ou acima de suspeitas ou de ambiguidades. Que o silêncio exerça sua função e preserve atitudes desconcertantes para um indivíduo ou um grupo.
Há construções morais de aspectos tão sólidos que não devem ser maculadas. Afinal, todos nós, em maior ou menor grau, guardamos atributos reais ou imaginários que alimentam nossos autoconceitos, e que nos fazem acreditar que, de fato, somos ou agimos em bases inegociáveis, determinadas por nossas reservas morais.
Admito que um certo grau de pragmatismo pode ser parte de grandes conquistas mesmo que contenham elementos questionáveis em seus métodos. Mas as pessoas nutrem uma admiração indiscutível pelos vencedores sejam quais forem os métodos empregados para o pódio.
As perdas nunca são consensuais. Nem haverá uma distribuição igualitária dos riscos, dos atos, dos erros e das consequências.
Os impulsos divergem e superam os cuidados, dos controles e desejos. Não há no erro um propósito e prevalecem as circunstâncias. Restam os sonhos até um ponto bem vividos.
Mas a zona cinzenta é imponderável. E dentro dela as rotas perdem o norte.
Por esquecimento, o tempo apaga as cores, os conceitos, os limites, os sorrisos, as promessas, os prazeres, a razão. Sobram tão somente o disfuncional e seus irreversíveis resultados, para uma paradoxal vitória do nada.
Cobertas das manchas impuras da culpa nos retalhos, se perdem as dimensões precisas dos contornos promissores, em sofrimento e dor.
Não é culpa minha
se não estou aparelhado
para entender certos conceitos
e sinais.
Conheço o ódio, o amor, a fome
a ingratidão e a esperança.
(Deus, a eternidade, o átomo e a bactéria
me excedem.)
O que não significa
que os ignore.
Ao contrário:
se não estou aparelhado
para entender certos conceitos
e sinais.
Conheço o ódio, o amor, a fome
a ingratidão e a esperança.
(Deus, a eternidade, o átomo e a bactéria
me excedem.)
O que não significa
que os ignore.
Ao contrário:
por não compreendê-los
finjo estar calmo
— e desespero.
(“Além de mim” - Affonso Romano de Sant'Anna)