Estava lendo A HISTÓRIA DA ASTRONOMIA, de Heather Couper e Nigel Henbest – ela e ele astrônomos britânicos , quando comecei a me impressionar com a forte presença feminina nessa área. Foi natural que me lembrasse de quando soube que a linda e sedutora Dalila - que tosara a poderosa cabeleira do marido, no filme SANSÃO E DALILA de Cecil B. DeMille de minha infância (1949) -, a atriz Hedy Lamarr (Viena, 1914 — Altamonte Springs, 2000) era inventora. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ela criara, com o compositor (este mundo é muito doido) George Antheil , um sistema de comunicações para as forças armadas americanas, que serviu de base para a atual telefonia celular.
Isso lembra a versatilidade de Mary Anderson (1866-1952) – empresária da construção civil e viticulturista – que inventara o limpador de para-brisa, cuja patente registrara em 1903.
Ok, mas já não se consegue causar surpresa ao se falar de Marie Curie (Varsóvia, 1867 - Passy, Sallanches, 1934), a primeira pessoa a ser laureada duas vezes com um Prêmio Nobel: o de Física, em 1903 (dividido com seu marido e com Becquerel), pelas descobertas no campo da radioatividade; e o de Química, em 1911, pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio. Mas eu falava de astrônomas. Lá vai a primeira:
Caroline Lucretia Herschel, germano-britânica, (1750 — 1848), aprendeu astronomia sozinha, e matemática com o irmão, o astrônomo William Herschel. Sua contribuição mais significativa para a astronomia foi a descoberta de vários cometas, especialmente o 35P/Herschel-Rigollet.
Henrietta Swan Leavit (1868 – 1921) tornou-se famosa por seu estudo sobre estrelas variáveis, utilizado por Edwin Hubble para calcular as distâncias das então chamadas “nebulosas”, algumas delas na verdade galáxias.
Cecilia Payne-Gaposchkin (1900 — 1979) britânico-americana, descobriu que o Sol é composto primariamente de hidrogênio, em 1925. Na época, acreditava-se que ele possuísse uma composição similar à da Terra.
A irlandesa Margaret Lindsay Murray Higgins (1848-1915) era musicista, pintora, escritora, especialista em antiguidades e astrônoma. Uma de suas principais descobertas- através da espectroscopia - foi a da presença de oxigênio na nebulosa de Órion.
Pausa.
No romanceamento do “Hamlet”, que encerra minha HISTÓRIA UNIVERSAL DA ANGÚSTIA – ed. Bertrand Brasil 2005, há este trecho, em que meu narrador, o paraibano Horácio, ouve isto, numa taberna:
- “Eu também gosto de Ofélia - disse o cavalheiro com os punhos e gola rendados - Mas ela não cabe na Dinamarca. Para você ter uma noção: um dia apareceu na minha aula com cerca de cento e trinta desenhos...
O taberneiro esclareceu:
- O Maestro deu aulas a ela e ao irmão por um bom tempo... - Não dá mais?
Valdemar disse:
- O Conselheiro da Corte mandou-me ensinar a seus filhos que o Sol gira ao nosso redor, “de conformidade com o grande Tycho Brahe e a Bíblia”, e que as estrelas estão fixas lá em cima e que, para além delas, encontra-se o reino de Deus e dos anjos. Queria que eu lhes dissesse que o mundo é composto pelos quatro elementos, como quatro são os humores que determinam nosso temperamento - você é fleumático, o Príncipe é melancólico, a moça, aqui, sanguínea, a massa, lá fora, colérica. Por essas e outras limito-me, agora, a ensinar música.
- Ofélia continua sua aluna?
- De alaúde, clavicórdio e virginal. A Rainha da Inglaterra era musicista competente e isso se tornou moda entre moças de toda a Europa. Ofélia é boa concertista, como Louise Labé - conhecida como La Capitaine Loys por ter combatido como soldado no cerco de Perpignan e que era famosa pela beleza, pela mestria com que tocava e cantava, e pelos belos sonetos que compunha... “ Vê-se que Shakespeare teve de onde tirar suas notáveis personagens femininas, como Lady Macbeth, Cordélia, Desdêmona, Viola, Jéssica, Beatriz, Katherine, Imogênia, Pórcia, Rosalinda, Cleópatra e Julieta.
- “Fale mais sobre Ofélia - pedi-lhe.
- Ah, você precisa ver os quadros dela, com ela mesma como modelo, fingindo-se de personagens pintados por Caravaggio e Artemísia Gentileschi. Artemísia, que também tem um histórico bem conturbado, incluindo estupro, esteve aqui e Ofélia admira-a muito, talvez até mais do que à Louise Labé. Depois desse contato, a filha do Conselheiro já se retratou como Judite com a cabeça de Holofernes, Salomé com a de João Batista.
- Hamlet que se cuide!...
O Maestro deu uma boa gargalhada.”
Artemísia Gentileschi! A História da Arte está cheia de grandes mulheres iguais a ela. Mary Cassatt, Tarsila do Amaral, Berthe Morisot, Anita Malfatti, Camille Claudel, Frida Kahlo, Élisabeth Vigée-Le Brum, Sofonisba Anguissola, Beatriz Milhazes, Fayga Ostrower, Tomie Ohtake: , etc, etc.
ARQUITETURA?
Lina Bo Bardi (1914 – 1992) Jeanne Gang (Illinois, 1964) Zaha Hadid (Bagdá 1950)
Maior pianista do mundo? Martha Argerich (Buenos Aires, 1941). Quem teve mais indicações para o Oscar? Meryl Streep (U.S., 1949): dezenove!
E você já ouviu falar de Rita Levi-Montalcini? Neurologista italiana (1909 – 2012), ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 1986, pela descoberta de uma substância do corpo que estimula e influencia o crescimento das células nervosas, e com isso ela possibilitou ampliar o conhecimento sobre o mal de Alzheimer e a doença de Huntington. Em 2009, ao completar cem anos, pelos seus estudos do sistema nervoso, recebeu o Wendell Krieg Lifetime Achievement Award, prêmio instituído pela mais antiga associação norte-americana de neurociência - o Cajal Club.
Rosalind Franklin (1920 - 1958) - Biofísica britânica, foi pioneira em pesquisas de biologia molecular. Ficou conhecida por seu trabalho sobre a difração dos Raios-X , e descobriu o formato helicoidal do DNA.
María Goeppert-Mayer (1906 - 1972), ganhou o Nobel de Física de 1963, por pesquisas sobre a estrutura dos átomos e o Modelo das camadas nucleares.
Jane Goodall, 1934, é primatóloga, etóloga e antropóloga britânica. Estudou a vida social e familiar dos chimpanzés (Pan troglodytes) em Gombe, Tanzânia, ao longo de 40 anos.
Barbara McClintock (1902 — 1992) é considerada, ao lado de Gregor Mendel e Thomas Hunt Morgan, uma das três mais importantes figuras da História em sua área. Empreendeu uma das mais espetaculares descobertas da genética - os genes saltadores ou transposões - pelo que recebeu o Nobel de Medicina de1983.
Dra. Maria Telkes, era húngara e mudou-se para os Estados Unidos em 1925. Trabalhou no renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), com pesquisas em energia solar, e em 1948 projetou a primeira casa com aquecimento solar. Ida Noddack (1896 — 1978), química alemã, foi a primeira a mencionar a ideia de fissão nuclear, em 1934.
Marjory Warren (1897 – 1960) assumiu a responsabilidade, em 1935, de cuidar dos 714 pacientes idosos de Londres, deixados para morrer nas “Enfermarias da Lei Pobre”, desenvolvendo uma abordagem positiva e reabilitativa, conseguindo que 35% deles recebessem alta. É, devido a seu método, considerada a MÃE DA GERIATRIA.
Já Florence Nightingale (Florença,1820 — Londres, 1910) foi pioneira no tratamento a feridos em combate, durante a Guerra da Crimeia. Foi pioneira, também, na utilização na enfermagem dos métodos praticados pelos médicos. Também contribuiu no campo da Estatística ao praticar a representação visual de informações sobre os pacientes, e lançou as bases da enfermagem profissional com a criação, em 1860, de sua escola de enfermagem no Hospital St Thomas, em Londres, a primeira escola secular de enfermagem do mundo, agora parte do King's College de Londres. O Dia Internacional da Enfermagem é comemorado no mundo inteiro no seu aniversário, 12 de maio.
Sua equivalente entre nós foi Anna Nery (1814 — 1880), a pioneira da enfermagem no Brasil, prestando serviços ininterruptos, durante a Guerra do Paraguai, nos hospitais militares da frente das operações em Salto, Corrientes, Humaitá e Assunção.
Figura marcante, também, foi Nise da Silveira (1905 — 1999) , famosa psiquiatra, discípula de Jung, que revolucionou o tratamento de seus pacientes, mostrando-se radicalmente contra às formas agressivas vigentes, tais como o confinamento em hospitais psiquiátricos, eletrochoques, insulinoterapia e lobotomia. Fundou o célebre Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio, em 1952, e – quatro anos depois, a Casa das Palmeiras, clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas. Deixou vários livros, entre os quais, JUNG, VIDA E OBRA, de 1968, que me introduziu nas teorias do genial dissidente de Freud, quando eu escrevia meu romance A VERDADEIRA ESTÓRIA DE JESUS – ed. Ática, 1979.
NA LITERATURA? São notáveis as presenças de Virginia Woolf, Pearl Buck, Clarice Lispector, Soror Juana Inés de la Cruz, Jane Austen, Simone de Beauvoir, Hildegarde de Bingen, Rachel de Queiroz, Emily Dickinson, Adélia Prado, Marguerite Yourcenar, Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Agatha Christie, as irmãs Brontë, Françoise Sagan, etc, etc.
Na Paraíba temos, atualmente, Marília Arnaud, Débora Ferraz, Vitória Lima, Maria Valéria Rezende, Marluce Suassuna Barreto Maia, Ana Adelaide Peixoto, Elisabeth Marinheiro, Neide Medeiros Santos – e várias omissões imperdoáveis.
ARTES PLÁSTICAS? A Paraíba tem Marlene Almeida.
COMPOSITORA? Cátia de França
GRANDES ATRIZES? Suzy Lopes, Marcélia Cartaxo, Soya Lira, Zezita Matos, Mayana Neiva, Mariah Teixeira, Ingrid Trigueiro – e a mesma certeza de omissões imperdoáveis.
Natural que as mulheres chegassem ao Poder. A líder mais popular , neste momento, “é provavelmente a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern”. São 24 países, atualmente, governados por elas. Um trecho do Google sobre o tema: “Entre os países nórdicos e bálticos, há seis com mulheres em cargos de liderança. Além da Estónia e da Finlândia, há primeiras-ministras na Noruega (Erna Solberg), na Dinamarca (Mette Frederiksen), na Islândia (Katrín Jakobsdóttir) e na Lituânia (Ingrida Simonyté).”
GRANDES MULHERES, ADICIONADAS A PEDIDO DE LEITORES:
HIPÁTIA (ou Hipácia; em grego: Υπατία, transl. Ypatía) de Alexandria (ca. 350–370 –8 de março de 415) – dados da Wikipedia): Foi uma neoplatonista grega e filósofa do Egito Romano, a primeira mulher documentada como sendo matemática. Como chefe da escola platônica em Alexandria, também lecionou filosofia e astronomia. Como neoplatonista, pertencia à tradição matemática da Academia de Atenas, representada por Eudoxo de Cnido e era da escola intelectual do pensador Plotino que a incentivou estudar Lógica e Matemática no lugar de investigação empírica e a estudar Direito em vez de ciências da natureza.
De acordo com a única fonte contemporânea, Hipátia foi assassinada por uma multidão de cristãos depois de ser acusada de exacerbar um conflito entre duas figuras proeminentes na Alexandria: o governador Orestes e o bispo de Alexandria, Cirilo de Alexandria.
Kathleen Wider propõe que o assassinato de Hipátia marcou o fim da Antiguidade Clássica, e Stephen Greenblatt observa que o assassinato "efetivamente marcou a queda da vida intelectual na Alexandria”.
GUIOMAR NOVAES. Guiomar Novaes(São João da Boa Vista, 28 de fevereiro de 1894 — São Paulo, 7 de março de 1979) – DADOS DA WIKIPÉDIA - foi uma pianista brasileira que construiu sólida carreira no exterior, particularmente nos Estados Unidos. Ficou especialmente conhecida pelas suas interpretações das obras de Chopin e Schumann. Foi importante divulgadora de Villa-Lobos no exterior. Nelson Freire faz emocionado e emocionante homenagem a ela, neste trecho do maravilhoso documentário sobre o pianista, de João Moreira Salles.
Margarethe Von Trotta (1942) , atriz, diretora e roteirista de cinema alemã, tornou-se famosa no período chamado de Novo Cinema Alemão, protagonizando filmes de Herbert Achternbusch, Rainhard Hauff e Rainer Werner Fassbinder. Em 1981 alcançou renome internacional dirigindo “Die bleierne Zeit” (“Anos de Chumbo”), com o qual venceu o Leão de Ouro do Festival de Veneza de 1981. Fez, entre outros, dois filmes sobre mulheres notáveis, “Rosa Luxemburgo” e “Hannah Arendt”.
ROSA LUXEMBURGO (1871 — 1919), A filósofa e economista marxista, polaco-germânica se tornou mundialmente conhecida pela militância revolucionária ligada à Social-Democracia do Reino da Polônia e Lituânia, ao Partido Social-Democrata da Alemanha e ao Social-Democrata Independente da Alemanha. Participou da fundação do grupo de tendência marxista do SPD, que viria a se tornar mais tarde o Partido Comunista da Alemanha. Quando a revolta espartaquista de que fez parte foi esmagada pelas Freikorps - milícia composta por veteranos da Primeira Guerra que estavam desiludidos com a República de Weimar, mas que rejeitavam igualmente o marxismo e o avanço comunista - Luxemburgo foi fuzilada e seu corpo jogado no Landwehr Canal, em Berlim.
HANNAH ARENDT (Alemanha, 1906 – Nova Iorque, 1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. Em 1963 lançou “Eichmann em Jerusalém”, sobre o julgamento de Eichmann, que cobriu para The New Yorker. Esse é o tema do filme de von Trotta. Ao contrário do que se esperava, Arendt não retrata o carrasco nazista Eichmann como um demônio, mas alguém terrível e horrivelmente normal, um burocrata que se limitara a cumprir ordens com zelo, sem questionar nada. Além disso, Arendt chocou por apontar a cumplicidade das lideranças judaicas com os nazistas.
HELEN KELLER (1880 — 1968) foi escritora, conferencista e ativista social estadunidense, a primeira pessoa surda e cega a conquistar o bacharelado em artes.
ANNE SULLIVAN (1866 – 1936) - que havia sido quase cega, mas depois de nove operações, recuperara alguns graus da visão - conseguiu romper o isolamento imposto pela quase total falta de comunicação da aluna, permitindo-lhe florescer enquanto aprendia a se comunicar.
WANGARI MUTA MAATHAI (1940 — 2011). Em 1960, Kennedy convidou 600 jovens quenianos para estudar nos Estados Unidos. Wangari, depois, prosseguiu seus estudos na Alemanha. Em 1971, é a primeira mulher do Quênia a receber o grau de doutora em Ciências e começa a sua luta em favor do meio ambiente. Em 2002, é nomeada Ministra Assistente do Meio Ambiente, dos Recursos Naturais e da Fauna Selvagem do seu país. Em 2004, recebe o Prêmio Nobel da Paz, a primeira africana a receber tal distinção. Por seu trabalho em prol do reflorestamento do Quênia é chamada “mãe das florestas” ou “a mulher que plantou milhões de árvores”.
MARGARIDA ALVES (Alagoa Grande, Paraíba, 5 de agosto de 1933 — Alagoa Grande, 12 de agosto de 1983) foi sindicalista e defensora dos direitos humanos, responsável por mais de cem ações trabalhistas na justiça do trabalho regional, tendo sido a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba durante a ditadura militar. Assassinada por um matador de aluguel com uma escopeta calibre 12, o crime comoveu a opinião pública internacional, com ampla repercussão em organismos políticos de defesa dos direitos humanos. Postumamente, recebeu o Prêmio Pax Christi Internacional em 1988.