Em um texto que escrevi sobre o livro anterior de Sérgio Rolim Mendonça, "O caçador de lagostas", aludi ao fato de o memorialista já nascer vocacionado para exercer esse mister desde quando, criança ainda, deita um olhar nostálgico sobre os seres e as coisas que giram ao seu derredor. Com efeito, o memorialista age motivado pela firme convicção de que tudo o que "é sólido desmancha no ar". E disse ainda que "o título desse livro, longe de ser uma excrescência, ratifica e põe em prática um verso antológico de Cecília Meireles: 'A vida só é possível reinventada.
E Sérgio Rolim a reinventa quando sai da mesmice, do ramerrão do cotidiano, para, na condição de um exímio caçador de lagostas, mergulhar noutras águas, nas águas do seu mar de dentro".
Desta feita, porém, Sérgio foi mais longe, retrocede ao ano em que nasceu o seu remoto ancestral, Nicolas Rolin (1376), e aos poucos, paulatinamente, vai chegando aos seus ascendentes mais próximos, ancorando, por último, na cidade de Cajazeiras, berço do Padre Inácio de Sousa Rolim.
No entanto, longe de se restringir apenas à genealogia de Nicolas Rolim, Sérgio dá uma ênfase especial às cidades, às artes plásticas, às formas de governo, às pandemias, às intrigas familiares, enfim, a todo um contexto que ele filtra e congela com as lentes de longo alcance do historiador que ele também o é.
Para escrever "A saga do chanceler Rolin e seus descendentes", Sérgio ultrapassou as fronteiras do Brasil com o fito único e exclusivo de colher in loco, mais exatamente na França, os elementos necessários à consecução de uma obra que é também fruto de um disciplinado pesquisador de lugares e de documentos.
Enfim, se de posse das ferramentas necessárias à feitura do livro o autor passa a narrar os fatos como se os estivesse vivendo no calor da hora, resta ao leitor se situar no epicentro dos episódios para também vivê-los e saboreá-los, através da linguagem substantiva e despojada de Sérgio Rolim Mendonça.
(do livro O leitor de si mesmo, à disposição na editora Arribaçã)