VARREDURA Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no cor...

Hora de limpar gavetas

poesia paraibana marineuma oliveira

 
 
 
VARREDURA
Hora de limpar gavetas entulhadas, descartar remédios vencidos, separar os vestidos que não cabem mais no corpo crescido. Hora de refazer os planos, entregar os pontos do que não foi resolvido. Hora de cortar as unhas, rever os gastos, olhar no espelho, recontar as rugas e relevar o tempo perdido. Hora de afagar os gatos, falar com as flores, aguar os canteiros, podar os galhos secos, adubar a terra ferida, valorizar o abraço afetivo. Hora de ir em frente, traçar novas metas, desativar os gatilhos, olhar em volta, agradecer ao passado por tê-lo vivido. Hora de calar pensamentos negativos, de ouvir o silêncio reflexivo, de só dizer palavras que possam transformar as causas velhas em novos ativos.
DA SAUDADE
horas nuas dores cruas sombras da lua passos na rua saudades tuas
ANO NOVO
Entre sonhos, planos e metas, e mesmo que tudo continue como antes, vale muito a sensação do novo e a ilusão de que algo possa ser, ao menos, renovado.
INSTALAÇÃO
Uma flor branca, desbotada, desprendeu-se do seu galho e caiu bem em cima de um cacto. O que antes era palidez sobre espinhos apontados, transfigurou-se em um mimo delicado.
METAMORFOSE
Que sejamos flor, a se desprender do galho, modificando, enquanto viva, o mais inóspito dos cenários.

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