Quantas memórias afetivas relacionadas à alimentação a gente guarda? Eu tenho inúmeras. Consigo fechar os olhos e entrar nas cozinhas da minha infância: da casa da minha avó materna, da minha casa, da casa da minha tia/madrinha Nena, da casa da minha avó paterna...
Sinto o cheiro do café sendo torrado na hora, das sopas que eu fazia birra pra não tomar e hoje sinto falta, das tapiocas com coco, dos bolos experimentais (incluindo um esquisitíssimo de abacate), cheiro de inhame com carne de sol, refresco de coco e de maracujá... E nem existia o modelo da mesa posta. A mesa era arrumada na hora. Bastava chegar, puxar um banquinho ou uma cadeira e iniciar um falatório sem fim. Tinha sempre muito assunto e muitas risadas.
Essa foto foi de um momento assim com pessoas queridas. Olhando pra ela sinto cheiro de cuscuz com coco, macarronada de legumes, queijo que quase virou água, sanduíches improvisados, tareco, banana cozida, manga parecendo mel, um chocolate para 4 e devorado por 2, canecas de café, vinho, espumante, cheiro de rio e mar.
A foto também traz lembrança de conversa boa até a hora que batia o sono, risadas, por do sol, lua cheia, sedução do boto, passeio de barco, corais, um pinóquio com olhos de peixe, cocada quentinha, batata frita doada espontaneamente pelo guia, o susto de um aratu, cebolas boiando, "dorme logo", caminhadas e banhos em um paraíso de águas mornas, canavial sem fim, ipês amarelos floridos, prece numa igreja antiga, pipoca e sorvete, travessia de balsa, conhecer um lugar mágico e se abestalhar ao ponto de esquecer a bolsa...
E era só uma declaração de amor numa frigideira!